O “eggbeater” é uma técnica usada na natação, especialmente em polo aquático e nado sincronizado. Envolve movimentos cíclicos de alta velocidade dos membros inferiores/superiores, alternando entre rotação interna e externa. Essa ação é importante para o trabalho de sustentação, deslocamento e sobrevivência em piscinas, lagos e mares.
Identificar se a pessoa sabe realizar o “eggbeater” faz parte do diagnóstico inicial do teste de aquacidade, no primeiro dia de aula, de cada aluno que participa da metodologia natação + segura. Neste primeiro contato, é verificado se o aluno iniciante na natação consegue sustentar-se flutuando na vertical com pernada alternada (eggbeater), com uso de palmateio, por 30 segundos e, após 12 aulas, é feita uma reavaliação1.
Mas, por que não só os alunos de atividades aquáticas devem aprender o eggbeater?
Saber se sustentar e se deslocar na água virou uma necessidade diante das mudanças climáticas atuais. As chuvas e alagamentos têm feito com que pessoas necessitem saber se sustentar para sobreviver. Este conteúdo, de sustentação vertical, é testado para verificar se o aluno consegue se sustentar sem colocar os pés no chão. Posteriormente, ele é trabalhado nas aulas porque, diante de alguma situação que gere desorientação na água, o aluno precisa saber retomar a posição do corpo ereto.
Dominar a flutuação é um dos pilares da natação e por isso consta no teste de aquacidade. Se o aluno souber usar o corpo a seu favor, com leve pernada, palmateios, descontração muscular, equilíbrio, calma, controle da respiração, ajuste do centro de flutuação e gravidade, ele dificilmente irá se afogar, pois poderá ficar flutuando e aguardar por socorro ou se deslocar suavemente para um local seguro2. De fato, para aumentar a segurança na água, é preciso ensinar crianças a utilizar braços e pernas para flutuar na vertical3, principalmente pessoas com necessidades especiais4.
Para pesquisadores da França, Nova Zelândia e Austrália, este item do teste de aquacidade, que solicita pernada para sustentar o corpo na vertical, é um conteúdo importante que pode ser trabalhado como uma habilidade de sobrevivência em muitos incidentes de afogamento, sobretudo porque esse comportamento permite que o indivíduo imerso mantenha a cabeça acima da água, o que evita a inspiração da água, permite que ele inspecione o ambiente e tome uma decisão sobre esperar pelo resgate ou nadar em segurança5. As crianças que são capazes de flutuar na água por 30 segundos têm menor taxa de afogamento fatal e, por isso, este conteúdo de sustentação deve ser ensinado na natação.

O exemplo de Bangladesh
Diagnosticar a eficiência da pernada de sustentação e palmateios são objetivos didáticos6 também em Bangladesh, onde instrutores de natação da comunidade usam este conteúdo e ensinam seus alunos a flutuar na água por 30 segundos em piscinas, adaptadas em lagoas, como forma de prevenção de afogamentos7. Bangladesh é um país muito pobre localizado na região sul da Ásia, com uma população de mais de 160 milhões de habitantes.
Para o pesquisador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, alunos de natação precisam aprender, além deste conteúdo procedimental (eggbeater) que consta no teste de aquacidade, outros dois conteúdos: o conteúdo atitudinal, onde as ações são focadas em ensinar ao aluno, para que ele possa ser capaz de saber respeitar e/ou saber conviver com regras de utilização, orientações do professor, seus limites, normas, posturas, hábitos de prevenção e atitudes e o conteúdo conceitual, que são as ações focadas em ensinar ao aluno, para que ele possa ser capaz de saber interpretar e/ou saber sobre placas, símbolos, avisos, significados, riscos, perigo e conceitos8,9.
Referências
- Vasconcellos, Marcelo Barros; Caloiero, Silvia. Use of the aquacity test as a tool for analyzing the level of beginner swimming students. aracê, [S. l.], v. 7, 5, p. 21057–21079, 2025. Disponível em: https://periodicos.newsciencepubl.com/arace/article/view/4781. Acesso em: 2 may. 2025.
- Vasconcellos, M.B., Macedo, F.C. (2021). Prevenção do afogamento com uso de conteúdos: Atitudinal, procedimental e conceitual. Latin American Journal of Development, Curitiba. 3(6): 3741- 54. https://ojs.latinamericanpublicacoes.com.br/ojs/index.php/jdev/article/view/837.
- Willcox- Pidgeon, S.M., Franklin, R.C., Leggat, P.A. Devine, S. (2020). Identifying a gap in drowning prevention: high- risk populations. Inj Prev 26(3):279-88.
- Vasconcellos MB, Viana LCA. Percepção de pais e professores do aluno autista com a metodologia Natação + Segura. Nadar! Swim Mag [Internet]. 12º de novembro de 2024;4(167):e167-97. Disponível em: https://revistanadar.com.br/index.php/Swimming-Magazine/article/view/97.
- Schnitzler, C., Button, C., Croft, J.L., Seifert, L. (2015). A New Qualitative Typology to Classify Treading Water Movement Patterns. Journal of Sports Science and Medicine. 14(3):530-35.
- (2017). Preventing drowning: an implementation guide. Geneva: World Health Organization.
- Gupta, M., Rahman, A., Baset, K., Ivers, R., Zwi, A.B., Hossain, S., Rahman, F., Jagnoor, J. (2019). Complexity in Implementing Community Drowning Reduction Programs in Southern Bangladesh: A Process Evaluation Protocol. Int. J. Environ. Res. Public Health. 16(6):968.
- Vasconcellos, Marcelo Barros. Verão chegando! Ações para prevenção de afogamento. Revista Empresário Fitness & Health. Edição 144. Dezembro. 2024. Disponível em: https://revistaempresariofitness.com.br/destaque/verao-chegando-acoes-para-prevencao-de-afogamento/.
- Vasconcellos, Marcelo Barros. Supertreinamento na natação. Revista Empresário Fitness & Health. Edição 147. Março de 2025. Disponível em: https://revistaempresariofitness.com.br/atividades-aquaticas/aula-de-natacao-que-ensina-a-reconhecer-um-afogamento/