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Qualificação profissional em Educação Física para o Mercado 60+

Colunista: Edvaldo de Farias

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O envelhecimento populacional da sociedade brasileira deixou de ser uma projeção distante e passou a moldar, de forma concreta, os rumos que deverão ser assumidos como construtores do futuro do país. Segundo o IBGE (2022), o número de pessoas com 60 anos ou mais deve dobrar até 2042 — um dado que, para o segmento dos negócios fitness e wellness, representa não apenas um desafio robusto, mas sim, e também, uma oportunidade estratégica de prosperidade de um negócio que já é bilionário.

Cada vez mais, e em um ritmo nunca visto antes, talvez acelerado pela ocorrência da pandemia da Covid 19, esse público busca a prática regular de exercícios físicos, esportes e lazer ativo como estratégias de aumento ou preservação da autonomia, da saúde, da funcionalidade e da qualidade de vida. É uma geração que não deseja apenas viver mais, mas sim, viver melhor e por mais tempo nesta condição.

Neste cenário, a qualificação dos profissionais de Educação Física atuantes neste segmento do mercado, que cada vez mais tem e terá uma clientela com este perfil, deixa de ser um diferencial competitivo, assumindo assim, o caráter de essencialidade ética e mercadológica. Diante deste contexto, este artigo propõe aqui, aos gestores e profissionais, uma reflexão crítica e fundamentada sobre as competências que devem priorizar para o desenvolvimento de suas equipes, com foco na excelência do atendimento à população sênior, que passa a ser um componente da qualidade na prestação dos seus serviços.

Envelhecimento e prescrição de exercícios: aplicação da ciência na prática

O envelhecimento humano traz consigo alterações fisiológicas que exigem atenção especial na hora de prescrever exercícios. Sarcopenia, osteopenia, perda de capacidade cardiorrespiratória, alterações na composição corporal e no metabolismo, alterações de caráter psicológico e comportamental dentre outras tantas. Longe de serem sinônimas de perdas da saúde, são o resultado de processos naturais do organismo humano, que demandam uma abordagem técnica e cuidadosa por parte de quem executa algum tipo de intervenção na vida destas pessoas (ACSM, 2021). Além disso, é comum que esse público conviva com comorbidades de diferentes tipos e origens, o que significa dizer que é inquestionável a necessidade de elaborar programas de exercícios físicos e esportes que sejam seguros, adaptáveis e, muitas vezes, construídos em parceria com outros profissionais da saúde, sem deixar de lado o binômio interesses x capacidades.

Mais do que gerar melhorias na aptidão física, em suas diferentes componentes, o objetivo dos programas de treinamento voltados a este público deve ser focado em preservar habilidades funcionais essenciais para o cotidiano, como por exemplo, equilíbrio, coordenação, força, mobilidade e autonomia funcional. A atuação do profissional de Educação Física que atende a este segmento precisa ser pautada por evidências científicas, com foco na prevenção de riscos e na promoção de resultados reais. Um exemplo claro é o recente estudo produzido por Sherrington et al. (2023), que reforça a eficácia de programas de força e equilíbrio na prevenção de quedas, um dos principais ofensores à saúde do idoso, por gerar fraturas, internações, custos para a saúde pública com cirurgias e, não raro, óbitos consequentes da internação.

Competências essenciais para o atendimento de excelência à clientela sênior

Diante desta demanda emergente no cenário das empresas do bem estar para atender a este segmento crescente no segmento fitness & wellness, não há dúvidas de que os profissionais de Educação Física precisam, mais do que nunca, ir além da formação básica, que infelizmente ainda não tem foco na realidade do mercado emergente, enriquecendo sua formação e carreira com saberes de alta relevância e impacto na qualidade da prestação de serviços. Apenas a título de exemplos, e assumindo que não são os únicos e nem os mais importantes, citamos aqui quatro destes saberes essenciais, que para além do currículo mínimo, devem ser objeto de programas de educação continuada nas nossas empresas fitness & wellness, seguindo assim, na direção da construção do “currículo máximo” dos seus profissionais.

1. Associar a fisiologia do exercício à gerontologia

Necessidade de compreender com riqueza de detalhes como o organismo humano envelhece e como responde aos diferentes tipos de treinamento em busca de resultados relevantes para a qualidade de vida da pessoa, conhecendo, por exemplo, como a sarcopenia pode ser evitada/combatida com programas específicos de treinamento de força, desde que prescritos com precisão e a partir de uma avaliação funcional e de risco consistente (CRUZ-JENTOFT et al., 2019), como por exemplo o Senior Fitness Test (Rikli & Jones, 1999), que se propõe a mapear capacidades e limitações com foco em uma abordagem individualizada na prescrição de treinos para as pessoas 60+.

2. Desenvolver competência para prescrição multimodal e adaptativa

Necessidade de ser capaz de prescrever treinos associando ganhos de força, resistência, flexibilidade e equilíbrio como forma de promover desenvolvimento em diferentes dimensões e, por isso mesmo, mais eficazes para a saúde. Além disso, ser capaz de adaptar o treino a condições clínicas e funcionais específicas de cada cliente, como recomenda o ACSM (2021).

3. Ser gerador de comunicação positiva e motivação

Como sabemos bem que a adesão a programas de exercícios físicos depende, e muito, da relação construída com o cliente, é fundamental portanto, que o profissional seja um bom ouvinte, empático, e principalmente seja capaz de compreender que o sucesso de seu trabalho está na relação direta do alcance dos objetivos pessoais de cada cliente 60+, o que significa dizer que a longevidade dos vínculos criados é um poderoso fator de aderência à prática de exercícios além de gerar fidelização desta exigente e crescente clientela (FIGUEIREDO et al., 2021).

4. Capacidade para interação interprofissional

Não há dúvidas quanto ao fato de que a abordagem em saúde, sobretudo no que diz respeito à clientela 60+, demanda uma interação e integração interprofissional, onde diferentes profissões e saberes devem ser congruentes para uma intervenção de qualidade, assertiva e geradora dos resultados necessários. Mas para que isso aconteça, é necessário que cada profissional seja capaz de criar links entre conhecimentos correlatos, ou seja, conhecer sobre as abordagens adotadas pelos seus pares não para substitui-los, mas para alinhar todos os saberes em favor dos resultados pretendidos, já que a promoção da saúde na clientela sênior requer necessariamente uma abordagem interdisciplinar. Assim, a articulação entre profissionais de Educação Física, fisioterapeutas, médicos geriatras, nutricionistas e psicólogos é essencial para garantir cuidado integral associado a resultados sustentáveis, seja nos casos de reabilitação, seja no controle de doenças crônicas, prevenção de quedas ou simplesmente na direção das melhorias incrementais das condições de saúde.

Em síntese, não há sequer sombra de dúvidas de que o mercado sênior no Brasil de hoje, e do futuro próximo, é um dos mais promissores, se não for o maior deles, no segmento de negócios em fitness e wellness, inteligentemente denominado de mercado do bem-estar. Os números da taxa de envelhecimento, redução da natalidade e aumento da expectativa de vida nos sinalizam para um cenário onde o mercado grisalho tende a ser determinante nas relações de consumo em serviços ligados à saúde, dentre os quais a prática de exercícios, esportes e de lazer ativo destaca-se enquanto geradora de uma perspectiva de aumento da qualidade da vida. Porém, e aí fica a recomendação de uma atenção especial por parte dos nossos gestores, para conquistar e manter esta clientela, o que significa captar, reter, fidelizar e gerar lealdade, é preciso investir em desenvolver conhecimento relevante e agregador de valor, sensibilidade para as sutilezas deste segmento da sociedade e estratégia, para fazer com que tudo isso esteja alinhado e focado no cliente e nas suas peculiaridades, que longe de serem apenas um detalhe, são os indicadores relevantes para que, na perspectiva deles, a qualidade de seu consumo seja determinante da melhoria das suas vidas.

Por sua vez, é inquestionável que gestores que reconhecem esses valores e investem na formação contínua de suas equipes nesta direção, não apenas elevam o padrão da prestação de serviços, mas constroem negócios mais sustentáveis e relevantes, contribuindo, ao mesmo tempo, para a saúde e o bem-estar de uma população que merece atenção e respeito e com a saúde de prosperidade do seu negócio.

Referências

ACSM (American College of Sports Medicine). ACSM’s Guidelines for Exercise Testing and Prescription. 11. ed. Philadelphia: Wolters Kluwer, 2021.

CRUZ-JENTOFT, A. J. et al. Sarcopenia: revised European consensus on definition and diagnosis. Age and Ageing, v. 48, n. 1, p. 16–31, 2021.

FIGUEIREDO, Karina; COELHO, Flávia Gomes de Melo; CHAVES, Aline Dessupoio; DE BRUNHEROTI, Karina de Almeida; BRITO, Bruna Thais Gomes de; PAPINI, Camila Bosquiero. Fatores motivacionais para a prática de exercício físico em idosos: estudo de abordagem mista. Arquivos de Ciências do Esporte[S. l.], v. 9, p. 1–11, 2021. Disponível em: https://seer.uftm.edu.br/revistaeletronica/index.php/aces/article/view/5515. Acesso em: 10 ago. 2025.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico 2022. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/22827-censo-demografico-2022.html . Acesso em: 10 ago. 2025.

RIKLI, R. E.; JONES, C. J. Senior Fitness Test Manual. 3. ed. Champaign: Human Kinetics, 2023.

SHERRINGTON, C. et al. Exercise for preventing falls in older people living in the community. Cochrane Database of Systematic Reviews, n. 4, 2023.

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