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Matricule-se na autoescola para aprender a nadar

Colunista: Marcelo Barros de Vasconcellos

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O instrutor de autoescola não precisa ver o candidato à habilitação de motorista dirigindo por 25km para diagnosticar se ele sabe dirigir e está apto a dirigir sozinho. Ademais, mesmo que uma pessoa consiga guiar o carro por 25km em uma estrada reta, ele não pode ser considerado como bom motorista, habilitado a conduzir o carro.

Para que esse aluno, candidato à habilitação de motorista, seja apto a dirigir sozinho, ele precisa saber conduzir o carro na ladeira, no engarrafamento, no estacionamento, na rotatória, com farol alto no rosto, no túnel, à noite, na chuva (conteúdos procedimentais). Além disso, ele precisa ter consciência para, no momento certo, trocar marchas, usar as luzes (farol, lanterna, seta), retrovisor, para-brisas, desembaçador, dar a preferência, agir com direção defensiva, interpretar as placas, ajustar o banco, correlacionar os botões no painel com sua funcionalidade etc. (conteúdos atitudinais e conceituais). Conteúdos teóricos e práticos seguem juntos para terem uma funcionalidade diante da aplicação no ato de dirigir o carro.

Na natação não é diferente! Nadar é muito mais do que se deslocar de crawl de uma borda para outra. Assim como na autoescola, existem conteúdos práticos e teóricos (procedimentais, atitudinais e conceituais) que, além de serem ensinados/aprendidos, devem ser verificados se o aluno consegue realizar de forma correta.

Na Europa, a natação é tão importante que faz parte do currículo do ensino fundamental na Suécia e toda criança precisa passar em um teste de natação como requisito para ser aprovada no curso de saúde e Educação Física1.

Escolas de natação, para quem quer aprender a nadar, fazem uma função semelhante à necessidade da autoescola para quem quer aprender a dirigir. A mudança mais significativa ocorrida em escolas de natação foi a implementação no currículo das aulas “práticas de natação”, o ensino de não apenas conteúdos procedimentais (movimentos de habilidades de nado), mas também o ensino de conteúdos conceituais e atitudinais2.

Um professor de natação atento e experiente não precisa pedir para o aluno atravessar a piscina nadando por 25 metros para identificar se o indivíduo está adaptado ao meio líquido e se está apto a usufruir sozinho e livremente do ambiente aquático. Primeiro, o aluno necessita aprender a reconhecer como o corpo funciona na água, cada “peça” do corpo está interligada para não afogar a bateria/coração e deixar o carro/corpo morrer, de tal forma que o desempenho de cada função para deslocamento na água possa ocorrer de forma consciente e em harmonia.

Mesmo que a pessoa consiga atravessar a piscina, se deslocando, sem colocar os pés no chão, por 25m, não significa que ela tenha habilidades aquáticas (conteúdo procedimental), saiba o significado de uma placa/bandeira (conteúdo conceitual), tenha consciência e comportamento para não se colocar em perigo (conteúdo atitudinal), consiga raciocinar rápido, e sobretudo que ela saiba tomar decisões adequadas diante de adversidades aquáticas que ela venha a vivenciar, tais como cair na parte funda. De fato, a natação oferece muitos benefícios potenciais, no entanto, os indivíduos que não sabem nadar correm o risco de se afogar3.

Para a análise da técnica na natação, assim como em outras modalidades, deve-se optar pela divisão do nado a ser ensinado em partes menores, em seus fundamentos4. Assim, o professor pode verificar não apenas se o aluno já “sabe nadar” até determinada distância, mas se ele consegue executar partes fundamentais do nado, por exemplo, se o aluno já domina a respiração aquática (bloquear e soltar o ar pela boca/nariz) nas suas diferentes formas e velocidades, consegue flutuar sem equipamentos, sabe realizar palmateios de sustentação5.

Saber nadar para o aluno ou para um pai é diferente do conceito de saber nadar para um professor de natação que ensina na autoescola. Saber nadar não é sinônimo de realizar o estilo crawl por uma distância de x metros. Precede o ato de nadar, o treinamento dos componentes das habilidades aquáticas que melhoram a aquacidade (nível de adaptação do indivíduo ao meio aquático) do aluno. Por trás da subjetividade do “eu sei nadar” existem testes que podem verificar o “verdadeiro” “saber nadar” de cada aluno6.

Não se preocupe com os quatro estilos de nado (crawl, costas, peito e borboleta), com quantos metros vai nadar, em qual velocidade. O importante é curtir o deslocamento, deslizar na água, entrar em sintonia com o ambiente para que seja uma atividade prazerosa.

Quer aprender a nadar com segurança? Invista em aulas de natação em uma escola próxima da sua residência. Aprenda a nadar fazendo aulas regulares, com calma, para que o seu “instrutor” possa ficar tranquilo que você vai “pilotar” o seu corpo com segurança na água. Nadar é vida, quando o nadador conduz o corpo conscientemente. “Se for nadar ou dirigir, não beba.”

Referências:

  1. Lõhmus M, Osooli M, Pilgaard FIH, Östergren PO, Olin A, Kling S, Albin M, Björk J. What makes children learn how to swim? – health, lifestyle and environmental factors associated with swimming ability among children in the city of Malmö, Sweden. BMC Pediatr. 2022 Jan 10;22(1):32.
  2. Vasconcellos, M.B., Macedo, F.C. (2021). Prevenção do afogamento com uso de conteúdos: Atitudinal, procedimental e conceitual. Latin American Journal of Development, Curitiba. 3(6): 3741- 54.
  3. Wilson S, Miller AM, Casson D, Ramos WD. Finding your lane: experiences and beyond for adults learning to swim. BMC Public Health. 2023 Dec 7;23(1):2444.
  4. Detanico D, Heidorn SI, Schutz GR, Santos SG. Aspectos cinemáticos e neuromusculares relacionados com o desempenho da saída do bloco na natação. Rev. bras. Educ. Fís. Esporte, São Paulo. 2011.5(4):559-66.
  5. Vasconcellos, Marcelo Barros. Controle respiratório na natação. Revista Empresário Fitness & Health. Edição 143. Novembro. 2024. https://revistaempresariofitness.com.br/atividades-aquaticas/controle-respiratorio-na-natacao/.
  6. Vasconcellos, Marcelo Barros. Natação monitorada. Testes desde aquacidade até o nível avançado. Rio de Janeiro: Paco, 2019.

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