O mercado global do bem-estar movimenta trilhões de dólares anualmente e é composto por 11 segmentos principais, segundo o Global Wellness Institute (GWI).
Entre eles, o segmento de “Cuidados Pessoais e Beleza” ocupa o primeiro lugar em preferência de compra dos consumidores. Este fato revela uma importante tendência de comportamento: o desejo crescente de parecer bem como uma extensão do sentir-se bem.
Para empreendedores do mercado fitness e profissionais de Educação Física, compreender esse segmento vai além da estética. Trata-se de entender um ecossistema integrado de saúde, autoestima e estilo de vida, onde o corpo é expressão do bem-estar integral.
O que é o segmento de “Cuidados Pessoais e Beleza”?
Segundo o GWI, o segmento de “Cuidados Pessoais e Beleza” inclui uma ampla gama de produtos e serviços destinados ao cuidado da pele, cabelo, unhas, cosméticos, estética facial e corporal, além de experiências sensoriais e de autocuidado.
Este segmento abrange não apenas a indústria cosmética, mas também salões de beleza, spas, centros de estética, produtos de skincare, maquiagem, procedimentos minimamente invasivos e até mesmo dispositivos tecnológicos para autocuidado em casa.
O foco central está na promoção do autocuidado físico e emocional, com a aparência funcionando como um espelho da saúde e da autoestima. Em um mundo que valoriza a imagem, os cuidados com a aparência passaram a ser considerados uma dimensão legítima e estratégica do bem-estar.
Por que este segmento lidera a preferência de consumo?
De acordo com o relatório “Global Wellness Economy: Looking Beyond COVID” (Economia Global do Bem-estar: olhando além da COVID), um documento do GWI de 2021, o setor de “Cuidados Pessoais e Beleza” representa mais de US$ 1 trilhão do mercado de bem-estar global. Isso ocorre por diversos motivos:
- Facilidade de acesso: produtos e serviços estão amplamente disponíveis no varejo físico e digital.
- Resultados visíveis e rápidos: diferentemente de mudanças comportamentais, como a adoção de exercícios físicos regulares, os resultados estéticos podem ser percebidos rapidamente.
- Vinculação emocional: cuidar da aparência está diretamente ligado à autopercepção, identidade e confiança.
- Influência da mídia e redes sociais: o culto à imagem é impulsionado por padrões estéticos compartilhados em tempo real.
- Ampliação do público consumidor: homens, idosos e crianças passaram a consumir produtos de beleza com maior frequência, ampliando o mercado.
Relação com o mercado fitness e a Educação Física
Embora, à primeira vista, cuidados com a pele ou cabelo pareçam distantes da atuação de profissionais de Educação Física, há uma conexão profunda: a valorização do corpo como templo do bem-estar.
O corpo treinado, bem cuidado e com boa aparência é um cartão de visitas no universo fitness. Academias, estúdios e personal trainers já perceberam isso e vêm integrando serviços e parcerias com:
- Profissionais da estética corporal e facial.
- Clínicas de dermatofuncional.
- Marcas de cosméticos e suplementos voltados para a beleza da pele, cabelos e unhas.
- Protocolos combinados de treino + estética (ex: HIIT + criolipólise).
Essa intersecção é uma oportunidade de ampliação de receita e valorização da experiência do cliente, além de permitir abordagens mais completas no acompanhamento de estilo de vida.
Casos práticos e modelos de negócio
- Academias com Day Spa
Grandes redes e academias premium, como a Bodytech e a Reebok Sports Club, incluem serviços de spa, massagens e estética em suas estruturas. Isso gera valor agregado e fidelização. - Estúdios com estética integrada
Empreendimentos como o “Estética em Movimento” (SP) oferecem treinos personalizados junto a tratamentos estéticos corporais, focando na saúde, performance e aparência do corpo. - Influencers e Personal Brands
Profissionais de Educação Física que se tornam influenciadores nas redes muitas vezes promovem produtos de autocuidado, cosméticos e roupas fitness, gerando renda com marketing de afiliados e licenciamento. - Consultoria de bem-estar
Alguns personal trainers atuam como consultores de estilo de vida, indicando produtos, hábitos e serviços que complementam a jornada de saúde e beleza de seus alunos.
O papel da Educação Física como ponte entre saúde e autoestima
Profissionais de Educação Física possuem formação técnica e científica para atuar com corpo, movimento e saúde. Porém, ao ignorar o componente estético e emocional da imagem corporal, deixam de dialogar com um desejo legítimo dos clientes: sentir-se bem com o que veem no espelho.
O cuidado estético não deve ser encarado como futilidade, mas como uma estratégia de promoção de autoestima, autoconhecimento e autocuidado. Profissionais que compreendem essa dimensão tornam-se mais sensíveis e assertivos em suas abordagens, ganhando destaque em um mercado cada vez mais centrado em experiências integradas.
Como se atualizar e empreender neste segmento?
Para atuar ou empreender no segmento de “Cuidados Pessoais e Beleza”, é recomendável:
- Estudar sobre neurociência da autoestima, imagem corporal e autocuidado emocional.
- Fazer parcerias com profissionais da estética, dermatologia e cosmetologia.
- Realizar cursos sobre experiência do cliente, brand experience e marketing sensorial.
- Integrar no planejamento do negócio soluções que envolvam os cinco sentidos
- Acompanhar tendências em feiras como a Beauty Fair, Estética in Rio, Wellness Summit e outras.
Além disso, entender o comportamento de consumo do público-alvo e manter-se atento às transformações culturais e tecnológicas é essencial para criar soluções relevantes.
O segmento de “Cuidados Pessoais e Beleza” mostra que o bem-estar é uma experiência sensível e visual. No mercado fitness, a estética não é concorrente da saúde — é aliada. O corpo não é só funcional: é simbólico, expressivo e desejante.
Profissionais e empreendedores que reconhecem isso ampliam sua atuação, dialogam melhor com seus clientes e constroem negócios mais alinhados às demandas emocionais e estéticas da sociedade contemporânea.
Integrar saúde, beleza e bem-estar não é luxo, é ESTRATÉGIA!. E está ao alcance de quem está disposto a compreender o ser humano de forma holística.
Referências
- Global Wellness Institute (2021). The Global Wellness Economy: Looking Beyond COVID. Disponível em: https://globalwellnessinstitute.org
- Seixas, R. F., & Ferreira, M. (2020). A Imagem Corporal e o Bem-Estar no Contexto da Educação Física. Revista Brasileira de Ciências do Esporte.
- Araújo, D. C., & Santos, A. R. (2021). O Corpo como Produto: Perspectivas estéticas no mercado fitness. Revista Movimento.
- Costa, M. T., & Andrade, R. (2022). Empreendedorismo e Estética Corporal: Uma nova fronteira para o profissional de Educação Física. Anais do Congresso Brasileiro de Atividade Física e Saúde.
- Forbes (2023). Beauty Meets Wellness: How the Skincare Boom is Merging with Holistic Health. Disponível em: https://www.forbes.com