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Quando sair do sofá vira risco: um alerta aos empresários fitness

Colunista: Angelo Dias

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O presente artigo é fruto de duas conversas motivadas pelo acidente com a barra de supino que levou a óbito um homem de 55 anos. A primeira foi com o Mestre Diego Gama durante a gravação do episódio 43 do Podcast #vocenasuaagenda (canal VoATalks no Youtube). Falamos sobre a importância da avaliação física para uma prescrição de exercícios segura, eficiente e motivante nas academias. E a outra reflexão sobre segurança no treino aconteceu na aula de Terapia Corporal com o professor Marcos Bortolato, quando discutimos sobre as consequências de um maior número de sedentários que passou a frequentar as academias por orientação médica.

O Brasil vive um fenômeno inédito: nunca tanta gente saiu do sedentarismo para buscar as academias em nome da saúde, da estética, da longevidade e da qualidade de vida. A promessa é linda — e real. Mas, por trás desse movimento positivo, uma sombra cresce no mercado fitness: estamos vendo mais lesões, mais frustrações, mais desistências e até relatos de eventos graves entre iniciantes.

Paradoxalmente, o ato de “sair do sofá” — símbolo de saúde e mudança — está se tornando um risco quando a pessoa dá seus primeiros passos em um ambiente despreparado, com a orientação inadequada… ou sem orientação nenhuma.

Este artigo é um alerta urgente aos gestores e profissionais: se não prepararmos o time para acolher, orientar e acompanhar adequadamente os milhares de novos entrantes do nosso segmento, estaremos colocando vidas em risco e comprometendo a reputação do setor como um todo.

O que a ciência já comprova — e o mercado ignora

Os dados científicos vêm mostrando há anos aquilo que muitos preferem não ver: a musculação e as atividades de academia têm alta incidência de lesões quando não são acompanhadas por profissionais capacitados.

Estudos mostram que:

  • A incidência de lesões em academias pode chegar a 7,8 a cada 1.000 horas de treino, sendo que 76% resultam em afastamento da prática por pelo menos um dia (PubMed, 1993).
  • Pesquisas brasileiras mostram que 70% dos praticantes de musculação relataram algum tipo de lesão ao longo do tempo — principalmente ombro e lombar — e as causas mais comuns são sobrecarga e falta de orientação técnica.
  • E mais: até 60% dos novos alunos desistem da academia nos primeiros meses, principalmente por não se sentirem acompanhados, seguros ou capazes de evoluir (estudos qualitativos na área da Educação Física e dados amplamente reportados pela literatura recente).

Tem ideia de como devem estar esses números agora?

A equação é simples e devastadora:
mais iniciantes + pouca orientação + pouca escuta + pouca progressão = mais lesões + mais abandono + mais frustração.

E isso não é um detalhe operacional. É uma falha estrutural.

A grande contradição do mercado fitness em 2025

O setor cresceu em número de academias, número de franquias, diferentes modelos de negócio, máquinas importadas, consultorias de vendas, marketing digital e influenciadores motivacionais. Mas, ao mesmo tempo, cresceu muito pouco naquilo que realmente importa para o aluno iniciante:

✔ acolhimento

✔ orientação

✔ acompanhamento

✔ progressão pedagógica

✔ comunicação clara e humana

✔ segurança

A verdade incômoda é que muitos novos alunos entram para “mudar de vida”, mas voltaram a ser deixados por conta própria dentro das academias.

Treinam como se tivessem experiência.

Erguem cargas sem saber se a técnica de execução do movimento está correta.

Pulam etapas porque não estão sendo orientados sobre progressão pedagógica e fisiológica.

Chegam ansiosos, inseguros e, muitas vezes, com dores… e saem sem a necessária atenção.

Como esperar mudança de estilo de vida assim?

Metáfora: o carro que ficou anos parado na garagem

Imagine que o corpo de um iniciante é como um carro que ficou anos parado na garagem.

O que acontece quando você liga um carro assim e pisa fundo no acelerador logo nos primeiros metros? Ele superaquece. Engasga. Apaga. Ou quebra.

Quem saiu do sofá está exatamente nesse estado: precisa de revisão, ajustes, calibragem, paciência e progressão consciente.

Mas grande parte dos professores não foi treinada para isso. E grande parte dos gestores não está formando seus times para esse cenário.

Resultado: estamos colocando iniciantes para “acelerar” sem antes verificar o motor.

“Mas isso não acontece na minha academia!”

Será?

Toda academia tem:

  • pessoas com sobrepeso iniciando musculação pela primeira vez;
  • indivíduos com dores crônicas tentando retomar a vida ativa;
  • jovens ansiosos querendo resultado rápido;
  • adultos que nunca tiveram vínculo com atividade física;
  • alunos com histórico de lesões, hipertensão, diabetes ou sedentarismo extremo.

Esses alunos não podem ser tratados como experientes! E, ainda assim, isso acontece todos os dias.

O professor passa o treino “padrão”. Acompanha de longe. Corrige um movimento ou outro. Mas não acolhe, não educa, não guia a jornada e não protege a integridade física do iniciante.

E quando algo dá errado, adivinhe quem o aluno culpa? A academia. O mercado. A modalidade. Não o próprio comportamento!

Lesão não é detalhe, é ruptura de confiança

Uma lesão não interrompe apenas o treino. Ela interrompe o vínculo. Quando o aluno machuca o ombro, ele deixa de confiar no exercício, no ambiente, no professor e nele mesmo.

Quando ele sente dor lombar constante, ele acredita que “academia não é para mim”.

Quando ele vê que não sabe o que está fazendo, pensa: “estou pagando para errar sozinho”.

Quando percebe que ninguém acompanha sua evolução, conclui: “sou só mais um número”.

É assim que nasce a desistência que destrói o faturamento mensal e aumenta a rotatividade.

E tudo isso poderia ser evitado com preparo adequado do time.

A raiz do problema não é técnica, é humana

No meu livro Mercado Bem-Estar: Acolher, Orientar e Acompanhar”, mostro que o professor de Educação Física não é apenas um transmissor de exercícios: ele é o primeiro ponto de contato emocional entre a pessoas e a mudança de vida pretendida.

O aluno iniciante precisa de:

  • alguém que o escute;
  • alguém que o tranquilize;
  • alguém que explique com clareza;
  • alguém que acompanhe;
  • alguém que se importe;
  • alguém que o acolha.

Quando esse papel é negligenciado, não adianta ter máquinas de última geração.
Sem acolher, orientar e acompanhar, não existe transformação sustentável.

A pergunta incômoda: seu time está preparado para os novos entrantes?

Se a entrada de novos praticantes está crescendo, seu time precisa crescer junto — em competência, sensibilidade e responsabilidade.

Aqui estão sinais claros de que uma equipe não está preparada:

  • troca o treino, mas não conversa sobre progressão;
  • observa a execução, mas não constrói vínculo;
  • sabe biomecânica, mas não sabe acolher;
  • corrige detalhes, mas não acompanha evolução;
  • sabe ensinar o exercício, mas não sabe ouvir o aluno;
  • atende bem, mas não transforma vida.

Esse profissional não está errado. Ele está despreparado. E isso é responsabilidade direta da gestão.

O caminho é claro: formar o time para acolher, orientar e acompanhar

O mercado fitness não precisa apenas de professores técnicos.
Precisa de profissionais preparados para lidar com gente.

Profissionais capacitados para:

  • conduzir anamnese;
  • identificar riscos;
  • planejar progressão realista;
  • acompanhar semanalmente;
  • educar sobre progressão de intensidade, descanso e evolução;
  • comunicar com empatia;
  • acolher sem julgamento;
  • enxergar a pessoa antes do corpo.

Isso é o mínimo necessário para manter iniciantes seguros — e é exatamente o que reduz lesões, desistência e frustração.

O alerta final: estamos no limiar de um risco coletivo

O crescimento do setor é positivo, mas pode se tornar um problema real se:

  • mais pessoas se machucarem ao entrar no segmento fitness;
  • mais alunos abandonarem por frustração;
  • mais iniciantes associarem academia a dor, incapacidade ou medo;
  • mais gestores negligenciarem o preparo da equipe;
  • mais profissionais atuarem sem formação contínua.

Não é exagero dizer: o futuro do setor depende de como tratamos o iniciante.

Se continuarmos a deixá-lo por conta própria, correremos o risco de destruir a imagem de um mercado que deveria salvar vidas — não prejudicá-las.

Conclusão: o mercado fitness precisa assumir a responsabilidade que pede para o aluno assumir

Queremos que o aluno cuide do corpo, progrida, busque saúde e longevidade. Mas nós, gestores e profissionais, precisamos assumir a mesma responsabilidade:

  • revisar processos,
  • educar times,
  • criar protocolos,
  • melhorar comunicação e acolhimento,
  • priorizar segurança,
  • acompanhar com rigor.

Sair do sofá não pode representar risco. Sair do sofá precisa representar cuidado. E isso depende de nós!

Se o aluno está disposto a mudar de vida, é nossa obrigação estar preparados para recebê-lo.

O mercado fitness está diante do maior movimento de entrada de novos praticantes da história.

Esse fenômeno pode ser nossa maior oportunidade — ou nossa maior crise.

A diferença entre um caminho e outro está em apenas três verbos: acolher, orientar e acompanhar.

 

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