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A arte de desagradar

Colunista: Thiago Villaça

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“Falta de pulso não é gentileza. É negligência fantasiada de simpatia.”

Se te escolheram para ser líder por causa do seu carisma, entregaram a vaga para a pessoa errada!

A função de um líder não é agradar. É provocar. É exigir. É desenvolver. E, em muitos momentos, isso significa se indispor com pessoas que você respeita, gosta e, em alguns casos, que você mesmo promoveu.

Se você ainda acredita que a função de um gestor é cultivar bons relacionamentos, talvez ainda não tenha entendido o que está por trás do verbo mais importante da liderança: educar. E educar exige enfrentamento. Exige desconforto. Exige coragem.

Bons relacionamentos devem se sustentar nos pilares da educação: na confiança entre líder e liderado, na humanização das relações corporativas e na convicção de que o propósito de vida de cada individuo é valorizado. Se bons relacionamentos estiverem sustentados nos pilares da harmonia sem levar em consideração o desenvolvimento das pessoas, o clima organizacional será ótimo para aqueles profissionais que querem “encostar o boi na sombra”.

Em outras palavras, você precisa se indispor para educar!

Nos bastidores das academias, estúdios e empresas do mercado fitness, vejo gestores entrando em colapso emocional por uma razão simples: não foram preparados para se indispor. Foram ensinados a gerenciar tarefas e sorrir para todos. Resultado? São promovidos por competência técnica e engolidos por um sistema que cobra postura, pulso firme e coerência entre discurso e atitude.

Ser líder não é sobre subir de cargo. É sobre subir de nível emocional. Um líder que não sabe dizer “não” é um líder que diz “sim” para o caos. Que autoriza comportamentos amadores em quem deveria ser profissional. Que finge que não viu. Que dá segundas chances sem critério. Que chama tudo de “mal-entendido” para não ter que se posicionar.

Erros comuns de quem lidera? Achar que cobrança se faz apenas por planilhas e metas. Achar que exigir é ser grosso. Achar que se indispor é sinônimo de criar clima ruim. Pelo contrário: é a ausência de postura firme que gera tensão. Equipes sem liderança clara operam no escuro, desconfiadas, desorganizadas.

O conflito gerado pela omissão é silencioso, corrosivo e, quase sempre, irrecuperável.

Como um dominó que derruba uma peça atrás da outra, quem é promovido costuma cometer um único erro: manter o mesmo tipo de relação com as pessoas só que em um cargo que exige outro tipo de comportamento. Todos os outros erros acontecem automaticamente na sequência deste primeiro!

O case da Apple

Isso acontece porque o recém promovido não percebe que agora o seu compromisso é com o desempenho coletivo, e não mais com a harmonia do grupo. A convicção do líder deve ser a protagonista das suas escolhas. Sem ela, qualquer distração externa transforma uma demanda coadjuvante em ator principal, qualquer opinião ganha a importância de uma estratégia e todo talento da equipe vira refém da permissividade de um líder que não sabe que educar machuca!

Um dos exemplos mais simbólicos disso é o caso de Steve Jobs. Quando voltou para a Apple em 1997, ele se deparou com uma empresa à beira do colapso. A primeira medida? Cortar mais da metade das linhas de produtos. Muita gente discordou. Muitos se sentiram traídos, ofendidos, desmotivados. Mas Jobs sabia que não podia liderar buscando aprovação. Precisava se indispor com quem fosse necessário para salvar a cultura da empresa e devolver o foco que tinha sido perdido. Anos depois, o resultado dessa postura está em todo nosso bolso, no nosso pulso, nas nossas mesas.

Essa liderança baseada em coragem, enfrentamento e clareza é ainda mais desafiadora quando pensamos na Geração Z. Estamos falando de pessoas que cresceram com acesso irrestrito à informação, senso crítico elevado e uma expectativa de propósito em tudo o que fazem. Para eles, autoridade sem coerência é ruído, perda de tempo. Liderança sem transparência é manipulação. Pulso firme sem comunicação clara é autoritarismo. E aí está o dilema: como cobrar sem parecer opressor? Como exigir sem ser visto como insensível? A resposta é simples — embora difícil de aplicar: com convicção. Um líder convicto sustenta a cobrança com sentido. Explica o porquê, mostra o impacto, mantém a escuta ativa e não negocia o essencial.

Liderar a Geração Z exige ainda mais consistência emocional. Eles não toleram a velha liderança baseada em gritos, nem respeitam a liderança omissa que evita conflito para manter a paz. Eles querem líderes que sustentam sua palavra, que saibam dizer “não” com empatia, e que se indisponham — sim, se for necessário — para proteger a cultura, os resultados e os valores que deram origem ao time. O medo de se indispor com essa geração não pode ser maior do que o compromisso de prepará-los para performar no mundo real.

Liderar é se indispor. Não com todos. Mas com quem precisa!

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