Publicidade

[uam_ad id=”3500″]

Anamnese em movimento

Colunista: Leonardo Farah

Publicidade

Costumo orientar meus alunos a realizarem a anamnese de seus clientes durante uma caminhada de baixa intensidade na esteira ou em qualquer outro ergômetro no qual a pessoa se sinta mais confortável. Essa abordagem pode parecer inusitada à primeira vista, mas faz toda a diferença na experiência do cliente e na qualidade das informações obtidas. Em diversos livros de avaliação física, cursos e materiais da área da saúde, é mencionado que uma boa anamnese pode garantir até 95% de acerto na identificação do contexto do cliente. Embora não sejamos profissionais da medicina e não tenhamos o papel de fechar diagnósticos, nosso objetivo é compreender profundamente o estilo de vida e os desafios do indivíduo.

Curiosamente, apesar de enfatizarem essa estatística, muitos materiais e cursos apresentam apenas um ou dois breves slides sobre anamnese e, em seguida, se aprofundam em técnicas e métodos de medição sem conectar essas informações ao contexto real do cliente. Isso resulta em uma avaliação mecanizada, na qual o profissional muitas vezes se limita a fornecer dados frios sobre percentual de gordura e desvios posturais, sem um raciocínio crítico sobre o que essas informações realmente significam para o cliente.

Muitos clientes chegam até nós carregando experiências negativas com profissionais despreparados ou academias que não se preocuparam com sua história. Se a avaliação se resume a expor os pontos negativos – excesso de peso, má postura, baixo condicionamento – a tendência é que o cliente se sinta julgado e retraído. Ele já sabe que está acima do peso, não precisa que isso seja “esfregado em seu rosto” de forma fria e impessoal. O problema se agrava quando consideramos que nossa profissão, apesar de pertencer à área da saúde, ainda não recebe o mesmo reconhecimento social que a medicina. Enquanto escândalos envolvendo profissionais da saúde ocorrem em diversas áreas, os médicos ainda possuem uma credibilidade que nós, da Educação Física, muitas vezes precisamos lutar para conquistar. Diante desse cenário, precisamos adotar abordagens que resgatem a confiança do cliente e promovam uma experiência mais humanizada desde o primeiro contato.

A solução? Começar a avaliação de forma mais leve, colocando o cliente em movimento. Em vez de sentá-lo em uma sala fria e metódica, por que não iniciar esse processo com uma caminhada na esteira? Sabemos que uma caminhada traz diversos benefícios, inclusive psicológicos. É um momento em que as pessoas costumam relaxar e se abrir para conversas. Assim como amigos compartilham experiências ao caminhar ou pedalar juntos, podemos usar esse momento para criar uma conexão mais genuína com o cliente. Essa abordagem permite que ele se sinta cuidado, ouvido e respeitado, criando um ambiente propício para que compartilhe sua história, seus desafios e suas expectativas. Essa interação humanizada também torna o processo de prescrição de exercícios mais assertivo. Ao ouvir atentamente, conseguimos adaptar os treinos não apenas com base em dados numéricos, mas considerando fatores emocionais, psicológicos e sociais que influenciam diretamente na adesão ao programa de exercícios.

Vivemos em um mundo onde a pressa e a falta de atenção ao outro são cada vez mais comuns. Como profissionais da saúde, temos a oportunidade de fazer diferente. Colocar o cliente no centro do atendimento, criar um vínculo de confiança e demonstrar real interesse em sua história são diferenças que vão muito além de qualquer resultado numérico.

Experimente essa abordagem: substitua a frieza das fichas padronizadas por um diálogo leve, uma caminhada e uma escuta ativa. Você perceberá não apenas um impacto positivo na qualidade das informações coletadas, mas também uma relação de maior confiança e adesão ao seu trabalho. Afinal, quando o cliente percebe que está sendo genuinamente cuidado, ele se sente motivado a continuar. E esse é o verdadeiro objetivo da nossa profissão: promover saúde, bem-estar e transformação na vida das pessoas.

 

Leia outros artigos

O que achou desse artigo?

Publicidade

Publicidade

Publicidade

REF&H
Enviar