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Imunologia do exercício em tempos de COVID-19

Colunista: João Rafael

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A integridade do funcionamento do corpo humano é mediada pelo sistema imunológico, que reage a agentes infecciosos e substâncias nocivas ambientais. Este sistema é dividido em imunidade inata ou nativa e adquirida, também conhecida como adaptativa. Esse sistema realiza funções de monitoramento, regulação da resposta imunológica e produção de memória a antígenos (ABBAS et al., 2012; MURPHY et al., 2014).

O sistema imune inato exibe barreiras físicas como a pele e tecidos do sistema respiratório e digestório; químicas como muco, saliva, suor, lágrima, ácido clorídrico, que impedem a entrada de patógenos no nosso organismo, entretanto, uma vez superadas essas barreiras, células do sistema imunológico entram em ação imediata com a finalidade de impedir que esses antígenos se proliferem e provoquem doenças. Essas células apresentam uma resposta imediata ao antígeno, ou células lesionadas e produtos de células lesionadas, contudo, inespecífica, pois não há anticorpos especificamente produzidos para aquele antígeno. Apesar disso, as células e moléculas que compõem a defesa inata inibem o microrganismo invasor, identifica-os e inicia o processo de comunicação com o sistema adaptativo com a finalidade de iniciar a produção de anticorpos específicos ao patógeno e memória imunológica (1,2).

Por sua vez, a imunidade adaptativa ou adquirida produz uma resposta que é mais demorada, porém, direcionada, específica e intensa que a produzida pela inata. A referida resposta identifica o patógeno e desenvolve mecanismos específicos para combatê-lo com anticorpos como parte do arsenal que persistirá após a infecção, otimizando a ação do sistema imune em encontros futuros (reinfecções pelo mesmo patógeno). As ações no sistema imunológico são mediadas pelos linfócitos T e toda a comunicação intercelular é mediada por moléculas sinalizadoras, como interleucinas e quimiocinas sendo a principal população celular da imunidade adquirida os linfócitos (1,3).

Em relação ao exercício físico, o estresse provoca alterações fisiológicas profundas no organismo representando uma das situações mais desafiadoras ao sistema imunológico humano. Autores vêm relatando que há uma relação entre a dose do exercício e a resposta do sistema imunológico. Geralmente essa resposta é dependente do tipo, volume e da intensidade do exercício. O excesso do treinamento físico pode levar à imunossupressão, contudo, o efeito crônico do exercício moderado costuma aprimorar o sistema imunológico sugerindo uma resposta protetora (5,6).

O treinamento aeróbico, caracterizado por exercícios de intensidade baixa, média ou moderada, realizados de maneira contínua, em que o metabolismo utiliza predominantemente oxigênio como último aceitador de hidrogênio durante a síntese de Adenosina Trifosfato ao final da β-oxidação, apresenta muitas controvérsias quanto ao seu benefício ao sistema imunológico, em especial, quando de baixa intensidade (7–9) e o nosso grupo de pesquisa vem demonstrando sistematicamente efeitos que chegam a ser inexistentes quando a intensidade do exercício é baixa. Os exercícios resistidos como a musculação apresentam uma maior intensidade e vêm demonstrando resultados interessantes como o aumento da atividade de células NK contra tumores, diminuição da senilidade de todas as células imunológicas o que sempre está relacionado com a atividade e vitalidade imunológica o que, quase sempre diminui com o envelhecimento, fator de risco para o agravo do COVID-19.

Por outro lado, autores descrevem que existe um fenômeno relacionado ao exercício conhecido como “Janela Aberta”, que é o momento em que ocorre uma redução das defesas do corpo, podendo o indivíduo estar mais suscetível a contrair doenças infecciosas pulmonares. O referido fenômeno foi descrito frequentemente em resposta ao treinamento excessivo e esportes com características aeróbicas intensas estando implicados na ocorrência deste tipo de evento (5). Contudo, estudo mais recente publicado em um renomado periódico internacional defende que não há suporte para que esta afirmação se sustente, visto que todos os estudos sobre o assunto não apresentam metodologia robusta o suficiente e nem apresentam resultados que confirmam que a existência dessa “janela imunológica” e que este fenômeno seja uma causa facilitadora de infecções (10).

Bom, após essa introdução, o que isso significa para esta época de COVID-19? Bom, não podemos ainda sustentar as afirmações aqui categoricamente devido à escassez de trabalhos para nos embasarmos, contudo, podemos supor que devido ao aprimoramento que o exercício é capaz de promover no organismo, uma pessoa que apresente um histórico de envolvimento com exercícios físicos pode possuir algum fator protetor sobre o adoecimento e, principalmente, sobre o desenvolvimento de agravos dessa doença, o que é perfeitamente plausível. Portanto, vejamos alguns motivos para acreditar que a prática regular de exercícios pode ser benéfica e até uma vantagem à saúde em relação às pessoas sedentárias, são elas:

  • Há um aprimoramento do sistema imunológico no que se refere ao número e à atividade de células imunológicas chave para o controle de doenças infecciosas, inclusive virais.
  • O sistema cardiovascular e ventilatório são aprimorados como efeitos subagudos e crônicos ambos profundamente afetados pela COVID-19.
  • O sistema renal também passa por melhoramentos diretos relacionados ao exercício como, por exemplo, a melhora da vascularização e, indiretamente, por melhorar o sistema cardiovascular, o que diminui a pressão arterial e a necessidade de produção e liberação de diversos hormônios relacionados ao rim e à glândula suprarrenal, o que pode ser uma vantagem.
  • O exercício possui um efeito anti-inflamatório, o que parece que pode ser uma enorme vantagem do ponto de vista dos agravos da COVID-19, pois, sem dúvida, há um processo inflamatório bastante importante e persistente que está implicado desde os fatores de risco até com o agravo da COVID-19.
  • O exercício evita e participa como protagonista ou coadjuvante do tratamento de diversas doenças e condições prévias que são relacionadas como fatores de risco para os agravos e com o aumento do óbito de pessoas.
  • Idosos, que são o maior grupo de risco, em especial os que possuem alguma doença que possua características inflamatórias sistêmicas subclínicas ou clínicas como cardiopatias, doença renal, Diabete Mellitus, ou câncer, por exemplo, costumam apresentar o controle ou até mesmo a cura dessas doenças em resposta ao exercício.
  • De maneira mais aplicada, o exercício físico constante diminui a incidência de gripes e resfriados; pessoas fisicamente ativas, quando ficam gripadas ou resfriadas, costumam se curar mais rapidamente e/ou apresentar sintomas mais brandos, o que sugere uma possibilidade desses efeitos poderem ser extrapolados também com a COVID-19.

Devido a esses argumentos, ainda especulativos e teóricos, acredita-se que pessoas com histórico de prática de exercícios físicos possam se beneficiar, contudo, há casos sim, de pessoas que mesmo sem doenças prévias e fisicamente ativas, apresentam agravos e até mesmo óbito.

O exercício não é infalível, assim como o antibiótico para pneumonia, ou soro antiofídico para acidentes com serpentes ou a cirurgia de revascularização coronária, mas, acredita-se que os argumentos são sólidos o suficiente para se associar o exercício a benefícios desta natureza, mesmo que se falando sobre uma doença viral, nova e emergente.

Convido você, leitor, que teve COVID-19, a preencher e encaminhar para todas as pessoas que tenham tido COVID-19 uma pesquisa que vai ajudar-nos a elucidar a hipótese de que o exercício pode ser um fator protetor do organismo contra essa doença, abaixo você encontra o link para o questionário em diferentes línguas.

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