A longevidade pode ser definida como a expectativa de vida de um indivíduo ou de uma população. A importância desse tema está relacionada aos impactos que a crescente longevidade tem na sociedade, como a necessidade de adaptar políticas públicas, sistemas de saúde e previdência social. Além disso, a longevidade traz reflexões sobre a qualidade de vida na terceira idade, o mercado de trabalho, a oferta de cuidados de saúde e os aspectos econômicos e sociais que envolvem a população idosa. A longevidade está diretamente ligada a diversos fatores, tanto a nível mundial quanto no contexto brasileiro.
O aumento da expectativa de vida é resultado da combinação de avanços na medicina e tecnologia, melhoria das condições de vida, educação em saúde, políticas públicas eficazes, alimentação equilibrada, prática de exercícios físicos, além de fatores genéticos e hereditários. Portanto, para o futuro, é necessário continuar investindo em todos esses aspectos, visando a manter e até mesmo ampliar os ganhos alcançados até o momento em termos de longevidade da população. Diante deste quadro, temos um grande desafio: modificar o estilo de vida dos idosos, pela inclusão dos hábitos saudáveis (GUISELINI, 2024). Neste contexto, cada vez mais verificamos a importância da prática regular do exercício físico orientado por profissionais de Educação Física; definitivamente é impossível falar sobre estilo de vida e longevidade saudável sem fazer referência sobre o treinamento sistematizado.
Prevalência de queda em idosos

No processo de envelhecimento, as quedas têm se tornado muito frequentes, fraturas, hospitalismos e mortes são as principais consequências sendo, portanto, motivo de muita atenção por parte dos profissionais da área da Saúde e Organizações Nacionais e Internacionais. Entre 2000 e 2019, as quedas causaram a morte de 18,8 mil pessoas no Brasil, sendo 15,1 mil vítimas com mais de 60 anos. Os dados são estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), no relatório Global Health Estimates. Conforme o documento, a faixa etária de 70 anos ou mais foi a principal afetada por mortes causadas por quedas. A estimativa soma quase 13 mil casos de idosos com mais de 70 anos tendo essa causa de morte. O número cai nas faixas etárias mais jovens. É de 2,2 mil para quem tem entre 60 e 69 anos e de 1,6 mil para 50 a 59 anos. As quedas entram no ranking da OMS dentro da categoria acidentes (lesões não intencionais), que foram a causa da morte de 74,2 mil pessoas no país neste período. É o segundo tipo de acidente que mais mata, perdendo apenas para os acidentes de trânsito. Nessa categoria também entram os envenenamentos, acidentes com fogo ou calor, afogamentos, exposição a forças mecânicas, desastres naturais e outras lesões não intencionais.
Dados interessantes
No mundo, estima-se que aproximadamente 28% a 35% das pessoas com mais de 65 anos sofram quedas a cada ano, percentual que aumenta para 32% a 42% entre aqueles com mais de 70 anos. (Biblioteca Virtual em Saúde MS)
No Brasil, dados do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil) indicam que a prevalência de quedas entre idosos residentes em áreas urbanas é de 25%. Além disso, as quedas representam a terceira causa de mortalidade entre pessoas com mais de 65 anos no país.
Definição de “queda”
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a queda como um acontecimento involuntário, com perda do equilíbrio, que leva o corpo ao chão ou a outra superfície. As maiores taxas de mortalidade por queda são de pessoas com mais de 60 anos. De acordo com o Kellogg International Work Group on the Prevention of Falls by the Elderly, pode ser definida como uma mudança de posição inesperada, não intencional, que faz com que o indivíduo permaneça em um nível mais baixo em relação à sua posição inicial, por exemplo, sobre o mobiliário ou no chão. Os idosos, por exemplo, tendem a definir a queda como uma perda de equilíbrio, enquanto os profissionais de saúde, em geral, se referem a eventos que levem a ferimentos e danos à saúde. Importante salientar que, especificamente, para os profissionais de Educação Física, existe uma forte relação entre a diminuição da capacidade funcional, especificamente a potência de membros inferiores e estabilidade/equilíbrio. Assim sendo, a definição operacional de queda, com critérios explícitos de inclusão e exclusão, é altamente relevante.
Um resumo interessante
Diversas condições de saúde podem aumentar o risco de quedas em idosos (FALSARELLA, et.al, 2014):
- Problemas de visão: condições como catarata, glaucoma e degeneração macular podem afetar a visão e dificultar a percepção de obstáculos.
- Fraqueza muscular e problemas de equilíbrio: a sarcopenia (perda de massa muscular) e condições como a doença de Parkinson podem afetar a força e o equilíbrio.
- Doenças crônicas: diabetes, artrite e doenças cardíacas podem afetar a mobilidade e o equilíbrio.
- Problemas neurológicos: acidente vascular cerebral (AVC), demência e neuropatia periférica podem afetar a coordenação e a capacidade de se mover com segurança.
- Uso de medicamentos: alguns medicamentos, especialmente aqueles que causam sonolência ou tontura, podem aumentar o risco de quedas.
- Hipotensão ortostática: queda da pressão arterial ao se levantar, causando tontura e desmaios.
- Depressão: pode levar à inatividade física, o que enfraquece os músculos e afeta o equilíbrio. Essas condições podem ser agravadas por fatores ambientais, como pisos escorregadios, iluminação inadequada e falta de apoios.
Importância da avaliação da capacidade funcional
Diversos instrumentos de avaliação, para avaliar o nível de desenvolvimento de capacidades biomotoras, que têm relação com os possíveis riscos de quedas em idosos estão disponíveis na literatura, cada um com suas particularidades e objetivos específicos. No trabalho publicado por Guiselini e Villela Jr (2025), os autores sugerem, entre vários protocolos, os testes que têm maior similaridade com as capacidades biomotoras relacionadas aos riscos possíveis de quedas, são eles: da Bateria Senior Fitness Test, os testes Time Up and Go (TUG), levantar e Sentar 30 segundos, o Physical Performance Battery (SPPB) e o Teste de Estabilidade/Equilíbrio Unipodal. Cada um dos testes proporciona uma avaliação detalhada de diferentes aspectos relacionados ao risco de quedas, permitindo a identificação precisa de áreas de fragilidade e a elaboração de planos de intervenção personalizados.
Programa de treinamento para prevenção de quedas
Na elaboração do Programa de Treinamento para Idosos, para o desenvolvimento da capacidade funcional (Guiselini, 2016), com objetivo específico de prevenção de quedas, o professor utiliza os exercícios multifuncionais (habilidades motoras), realizadas com o peso do próprio corpo, acessórios e máquinas. Podem ser realizados com auxílio da música, dependendo das características, nível da capacidade funcional, objetivos específicos e necessidades do grupo. Os exercícios que priorizam o desenvolvimento da resistência de força isométrica e dinâmica, potência (foco nos membros inferiores), estabilidade/equilíbrio estático e dinâmico (local e global), coordenação motora global, utilizando o peso corporal, acessórios, máquinas, superfícies estáveis e instáveis, são os mais recomendados.
Efeitos do exercício físico na prevenção de quedas
O exercício físico na prevenção de quedas em idosos tem inúmeros benefícios, tais como a melhora da estabilidade/equilíbrio, fortalecimento muscular, aumento da densidade óssea, ajuste postural, aumento da mobilidade/flexibilidade. Além disso, a prática regular de exercícios físicos contribui para a redução do risco de ocorrência de quedas, melhora a mobilidade funcional e a independência dos idosos, promove a saúde cardiovascular e reduz os sintomas de depressão e ansiedade. Os benefícios são abrangentes e impactam positivamente a qualidade de vida dos idosos, reforçando a importância do exercício físico como estratégia de prevenção de quedas.
De acordo com o Guia de Prevenção de Quedas em Pessoas Idosas da Sociedade Americana e Britânica de Geriatria e da Academia Americana de Ortopedia, a recomendação enfatiza intervenções multifatoriais e em, termos de exercício, o guia recomenda para indivíduos independentes treinamento da marcha e programas de exercícios com ênfase no treinamento da estabilidade/equilíbrio.
Exemplo prático

Em pé sobre o Step, com auxílio do Professor, realizar a flexão plantar e a dorsiflexão do tornozelo (elevação do calcanhar). Está iniciando o treino, faça de 8 a 12 repetições. – 2 séries. Já treina, faça de 15 a 15 repetições – 3 séries.
A Estabilidade/Equilíbrio e a eficiência neuromuscular são melhoradas por meio de repetitivas situações com uma grande variedade de condições multissensoriais, como, por exemplo: o aluno cliente realizar o equilíbrio sobre 1 dos pés (estático) e, na sequência incluir movimentos das pernas, nos diferentes planos. Na sequência, tentar pegar um objeto no solo. Isto ajuda o sistema nervoso a desenvolver a integração sensorial, resultando na seleção adequada de movimento. O principal objetivo do Treinamento da Estabilidade/Equilíbrio é continuamente aumentar percepção do aluno/cliente de seu limite da estabilidade (percepção cinestésica) pela criação do controle da instabilidade. Um exemplo deste controle pode variar, para um aluno de 65 anos, equilibrar o corpo sobre 1 dos pés e um de 25 anos sobre 1 balance disc. Os exercícios de estabilidade/equilíbrio e coordenação motora global, são fundamentais para idosos, pois ajudam a melhorar estas capacidades, reduzindo o risco de quedas. As atividades podem incluir exercícios simples como ficar de pé em um pé só, caminhar em linha reta e a prática de tai chi, que é conhecida por aprimorar a consciência corporal e a coordenação motora. A realização regular destas atividades aumenta a confiança ao realizar tarefas diárias, dado que a estabilidade/equilíbrio é uma capacidade crucial para lidar com superfícies irregulares e mudanças de direção repentina (GUISELINI E GUISELINI, 2024).
As capacidades biomotoras importantes

A abordagem multidimensional assegura que as diversas capacidades biomotoras sejam trabalhadas, fortalecendo a musculatura, aprimorando a coordenação motora e melhorando a resistência cardiovascular, essenciais para a manutenção da autonomia e a prevenção de acidentes (MARTINEZL, et.al. 2018; STRANDBERG, et.al. 2015; MATSUDO, et.al. 2001. GUISELINI e GUISELINI, 2024),
De acordo com Guiselini e Guiselini (2024), no treinamento com foco na prevenção de quedas (fig 2), é importante identificar as capacidades biomotoras determinantes – aquelas que são específicas, mais diretamente relacionadas com o objetivo proposto – e as complementares que, por sua vez, também contribuem para tanto.

No próximo artigo vamos apresentar sugestões práticas de exercícios recomendados para a prevenção de quedas.
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- Guiselini, M, Guiselini, R. Avaliação do Movimento: como diagnosticar déficits de movimento para a prevenção de lesões e prescrição de treinamento personalizado e coletivo. Editora Dialética, São Paulo. 2024.
- Guiselini, M, Guiselini, R. Exercício Multifuncional: Fundamentos e Aplicação Prática. E-BOOK. Instituto de Ensino e Pesquisa Mauro Guiselini. São Paulo, 2020.
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