Nos últimos anos, academias e estúdios multiplicaram investimentos em máquinas de última geração, aplicativos, tráfego pago, campanhas digitais e parcerias estratégicas. Mas, na prática, ainda vejo uma lacuna gigantesca: a experiência real do cliente.
E aqui eu não falo apenas do treino em si, mas de tudo que acontece desde o primeiro contato com a sua marca no Instagram até o momento em que o aluno decide renovar (ou cancelar) seu plano.
A realidade é dura: boa parte das academias continua rodando no piloto automático. O funil é previsível: capta o lead, agenda uma aula, apresenta o preço. Mas o cliente de hoje é mais exigente, informado e volátil. Ele busca algo muito maior: uma jornada de pertencimento, conexão, reconhecimento e resultado real.
Se você acha que isso é detalhe, pense comigo: quando foi a última vez que você mesmo permaneceu fiel a uma marca apenas pelo preço?
Onde a maioria erra
Depois de treinar milhares de profissionais e acompanhar centenas de academias de diferentes tamanhos, posso afirmar que os erros se repetem:
1. Foco no preço, não no valor
Gestores ainda acreditam que o diferencial está em “R$ 20 a menos” na mensalidade. A guerra de preço é uma corrida para o abismo. O aluno não compra academia. Ele compra propósito, estilo de vida, comunidade e transformação.
2. Atendimento robótico
Respostas como: “tem vaga?”, “quanto custa?”, “quais horários?”. Isso não é atendimento, é repelente. Um atendimento frio faz o aluno sentir que está falando com uma máquina sem alma.
3. Liderança ausente
Equipes sem direção acabam executando no automático, sem consciência do impacto que têm na retenção e nas vendas. Sem liderança, até o melhor plano de marketing morre na recepção.
4. Falta de alinhamento interno
Marketing atrai, vendas convertem e a operação fideliza. Quando cada área trabalha isolada, o aluno percebe a desconexão.
O jogo de quem cresce
Por outro lado, academias que estão escalando já entenderam que o diferencial não está apenas nas máquinas ou na estética, mas em como cada ponto de contato gera valor para o aluno.
Essas empresas estão jogando outro jogo. Elas:
- Criam funis digitais que nutrem relacionamento antes mesmo da primeira visita. O aluno chega ao balcão já conhecendo a proposta e pronto para experimentar.
- Treinam recepcionistas como consultores de relacionamento e não como “operadores de agenda”. Cada interação é uma oportunidade de encantamento.
- Usam inteligência artificial e dados não apenas para gerar leads, mas para prever comportamento, reduzir cancelamentos e personalizar a experiência.
- Transformam professores em líderes de retenção, mostrando que cada ajuste no treino e cada palavra de incentivo impacta diretamente na fidelidade.
- Criam comunidade em torno da marca, indo além do treino. Eventos, grupos de apoio, desafios e até mesmo pequenos rituais reforçam a sensação de pertencimento.
Onde está a virada
O futuro do fitness não é sobre “abrir portas”. É sobre criar um ecossistema onde o aluno não quer sair.
Empresas que conseguem alinhar marketing, vendas e experiência têm resultados expressivos.
E mais do que números, há um ganho invisível: autoridade e relevância. Quando um cliente sente que você o vê como pessoa e não como boleto, ele não troca sua academia por um concorrente mais barato.
O papel da liderança
Liderar um negócio (no fitness ou não) hoje exige muito mais do que olhar planilhas de vendas ou controlar escalas de professores. Exige formar times conscientes de que cada detalhe importa.
É papel da liderança mostrar para a recepcionista que ela não “agenda horário”: ela abre portas para o início de uma jornada. É papel da liderança mostrar ao professor que ele não “dá aula”: ele constrói pertencimento.
E, acima de tudo, é papel da liderança criar rituais de acompanhamento, indicadores claros e momentos de feedback para que toda a equipe jogue junto.
O futuro é humano
Com tudo isso, é importante lembrar: tecnologia é meio, não fim.
Inteligência artificial, automação, CRM, funis digitais — tudo isso é incrível, mas não substitui o essencial: gente que se importa com gente.
O aluno não paga pelo treino. Ele paga pelo jeito que se sente quando entra e quando sai da sua academia. Ele paga pela sensação de estar evoluindo, de ser reconhecido, de pertencer.