Pesquisar
logotipo-refh-transparente

Publicidade

[uam_ad id=”3500″]

Natação paraolímpica

Colunista: Marcelo Barros de Vasconcellos

Publicidade

Escolas de natação estão preparadas para receber pessoas especiais? Quem ensinou e onde aprenderam a nadar os atletas que representam o Brasil nas paraolimpíadas?

São poucas as escolas de natação que oferecem aulas para pessoas com alguma deficiência (físico-motora, visual ou intelectual) que englobam a natação paraolímpica. A falta de acesso, inadequação das instalações (portas, vestiários, rampa, borda da piscina e profundidade da água), despreparo e receio do professor são alguns dos motivos que levam os estabelecimentos a não ofertarem aulas para esse público.

Confesso que, mesmo tendo especialização em Educação Física adaptada, tendo trabalhado anos com natação para deficientes, a cada novo aluno especial, tinha receio de não conseguir atender as expectativas dos alunos e dos parentes, além de ter medo de não compreender/ser compreendido, de não conseguir interagir, de machucar o aluno, de ele se afogar, mas ao mesmo tempo percebia que quando eles se sentiam acolhidos retribuíam com assiduidade, pontualidade, resiliência, amor, ternura, dedicação, alegria e vibração com “pequenas” conquistas na adaptação ao meio liquido, cada melhora de sua aquacidade era uma vitória de todos.

O que se percebe é que nadadores paraolímpicos são exemplo de resiliência e, quando são oportunizados a nadar, seguem as braçadas por longos anos e representam muito bem o país. O Brasil, por exemplo, já conquistou 102 medalhas na natação em Jogos Paraolímpicos, sendo 32 de ouro, 34 de prata e 36 de bronze. É a segunda modalidade que mais medalhas deu ao Brasil nas Paraolimpíadas, atrás apenas do atletismo (142)1. São nomes da natação paraolímpica brasileira: Daniel Dias, Clodoaldo Silva, André Brasil, Joana Neves e Phelipe Rodrigues.

As provas de natação têm adaptações nas largadas, viradas e chegadas. Os nadadores cegos, por exemplo, recebem um aviso do tapper, um membro da equipe de apoio, que auxilia o atleta com deficiência visual quando ele se aproxima do fim da piscina, por meio de um bastão com ponta de espuma2.

A largada também pode ser feita na água, no caso de atletas de maior comprometimento (classes mais baixas que serão explicadas a seguir), que não conseguem sair do bloco. As baterias são separadas de acordo com o grau e o tipo de deficiência. No Brasil, a modalidade é administrada pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB)1.

Na natação paraolímpica, os atletas nadam provas individuais e de revezamento nos estilos livre, costas, peito, borboleta e medley, em distâncias que variam de 50m a 400m. Para o estilo livre, há provas de 50m a 400m; para os estilos peito, costas e borboleta, provas de 50m e 100m e, para o nado medley, provas de 150m e 200m. A prova de 150m medley individual é oferecida aos atletas com deficiência severa e composta de três estilos: costas, peito e livre, enquanto a medley de 200m inclui também o estilo borboleta.

A largada pode ser feita de diversas posições, com ou sem auxílio, conforme o grau de funcionalidade de cada atleta da posição em pé ou sentada no bloco de partida, dentro d’água ou ainda ao lado do bloco. O sinal sonoro de largada é acompanhado de um sinal luminoso nos blocos de partida, para atender a atletas que também tenham deficiência auditiva.

Classes da natação paraolímpica

De acordo com o comitê paralímpico brasileiro1, as classes esportivas da natação sempre começam com a letra S (swimming). Os atletas são divididos em 14 classes esportivas e cada um deles recebe, por sua vez, três classes: classe S para os nados livre, costa e borboleta; classe SB para o nado peito; e Sm para o nado medley. Isto ocorre porque os diferentes nados exigem capacidades funcionais específicas, e uma mesma deficiência pode afetar de maneira diferente a execução de cada um dos estilos.

Na natação, quanto menor o número da classe, maior o comprometimento do atleta:

  • Classes S1 a S10, SB1 a SB9 e Sm1 a Sm10 – nadadores com limitações físico-motoras.
  • Classes S11 a S13, SB11 a SB13 e Sm11 a Sm13 – nadadores com deficiência visual.
  • Classes S14, SB14 e Sm14 – nadadores com deficiência intelectual.

Os atletas das classes 11 são cegos e contam com a assistência de um batedor para as viradas e chegadas. No momento exato, o batedor sinaliza a execução do movimento tocando no atleta com um bastão com ponta de espuma. Os nadadores cegos nadam com óculos opacos para que todos possam competir em igualdade de condições.

Ajuda do professor

Para a Association of Swimming Therapy, a segurança do nadador é absolutamente crucial: se ele se ferir durante a aula poderá ocasionar muitos prejuízos. Se ele estiver insatisfeito em relação ao modo como é auxiliado e ensinado, talvez nunca mais retorne à escola de natação. Não basta que as pessoas com alguma deficiência estejam seguras: elas devem sentir-se seguras quando estão sendo ajudadas a movimentar-se fora e dentro da água. Além disso, deve-se realizar avaliação pré-participação para prevenir lesões, acidentes e morte súbita3. Por isso, é importante conhecer bem o aluno usando duas ferramentas para primeiro dia de aula: a anamnese4 e o teste de aquacidade5. Estes auxiliarão o professor no ajuste de sua aula às necessidades do aluno.

Ao considerar que a assistência no solo vem em primeiro lugar, a atitude do nadador em relação à aula terá origem com a qual ele percebe as coisas antes de entrar realmente na água. Os ajudantes e professores devem ter como objetivos ganhar a confiança, minimizar o ruído, a confusão e nunca fazer com que a pessoas portadoras de deficiências sintam-se como um “fardo”. Nesse ponto, a empatia, o sorriso franco e alegria são de grande ajuda.

O olhar da Terapia Ocupacional

A Terapeuta Ocupacional Marines Barros Fernandes, diz que procura indicar, a seus pacientes portadores de necessidades especiais, a prática da natação, pois a mesma oportuniza benefícios para a saúde física, cognitiva e social.Podem-se destacar como exemplos: melhora da capacidade funcional, melhora da capacidade perceptiva e motora, equilíbrio estático e dinâmico, aumento da amplitude de movimentos, esquema corporal, orientação espacial, lateralidade, autoimagem, autoestima, limites, sequência de movimentos, autoconfiança e outros. Todos esses aspectos estarão somando para ganhos futuros e autonomia tão necessária a esses pacientes. É interessante ressaltar que os pais têm um papel fundamental como coadjuvantes para esses ganhos, pois existe uma tendência natural de superproteção, o que pode prejudicar o desempenho do paciente/aluno. Porém, quando o amor é demonstrado na medida certa, muito nos surpreendemos!

Os professores devem tentar ajustar suas mentes para imaginar como se sentem as pessoas com deficiências, como gostariam de serem tratados e não excluídas.

Professor, ajude no processo de nadar lado a lado, pois paraolímpico representa a combinação do prefixo “para”, que significa paralelo, com o termo Olímpico. Você professor, como eu, pode não se achar preparado para dar aula de natação para alunos especiais, mas permita-se estar aberto para receber e aprender com ele, uma braçada de cada vez. Os atletas paraolímpicos de hoje tiveram professores que disseram sim para eles no passado.

Diga sim “para” a natação paraolímpica!

Referências

  1. Comitê Paraolímpico Brasileiro
  2. Federação Internacional
  3. Oliveira Filho JA, Nóbrega ACL, Emed LGM, Leitão MB, Vital R. Paralympics – Addendum to the Update on the Guidelines for Sport and Exercise Cardiology of the Brazilian Society of Cardiology and the Brazilian Society of Exercise and Sports Medicine. Arq Bras Cardiol. 2019 Sep; 113(3): 339–344.
  4. Vasconcellos, Marcelo Barros. Anamnese para natação e hidroginástica. Revista Empresário Fitness & Health. Edição 90. Junho de 2020.
  5. Vasconcellos, Marcelo Barros. Natação + segura. Revista Empresário Fitness & Health. Edição 87. Março de 2020.

Leia outros artigos

O que achou desse artigo?

Publicidade

Publicidade

Publicidade

REF&H
Enviar