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4 passos para o primeiro dia de aula na natação

Colunista: Marcelo Barros de Vasconcellos

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O que a pessoa realiza pela primeira vez pode marcar a memória, de forma positiva ou negativa, para o resto da vida. É comum a pessoa se lembrar da primeira vez que andou de bicicleta, beijou, saiu sozinho, dirigiu, viajou, foi para creche/escola ou até mesmo, o primeiro dia de aula de natação, tema que será abordado neste texto que tem o objetivo de refletir sobre passos que podem ser dados, no primeiro dia de aula de natação, para que este início seja marcado de forma positiva para pais e alunos.

Quando se viaja de avião ou de cruzeiro existem orientações sobre como agir em caso de acidente. Ao passageiro é apresentado o local da saída de emergência, rota de fuga e como usar o colete salva vidas, visando familiarizá-lo com o ambiente e prevenir ações inadequadas que possam gerar acidentes. Mas, o que isso tem a ver com o primeiro dia na aula de natação? Há similaridade, pois pessoas no ambiente aquático precisam receber informações sobre como se comportar na piscina e seu entorno.

Ambientação ao espaço aquático

Na creche ou escola, o primeiro dia de aula é o dia de conhecer o professor, pátio, refeitório, banheiros, e toda a estrutura física e pedagógica da instituição. Semelhantemente, na escola de natação, o primeiro dia de aula é o dia de conhecer o novo ambiente aquático, para que esse convívio seja harmonioso.

A piscina pode ser um local prazeroso, fantástico, relaxante, animador, revigorante, lúdico, no entanto, existem riscos ao se utilizar o ambiente aquático se não houver cuidados preventivos para evitar acidentes como afogamentos, escoriações e até a morte. Tudo vai depender da abordagem inicial e filosofia dos professores deste local que oferece aulas de atividades aquáticas.

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Deixe uma boa impressão sobre a natação

Como você quer que o seu aluno se lembre da primeira aula de natação? O dia em que “jogaram ele na piscina” e ele se afogou ou o dia de experiências novas, acolhedoras e o aprendizado de como deve agir no ambiente aquático?  

O primeiro dia de aula de natação da minha filha foi traumatizante, pois a professora pediu para ela atravessar nadando sozinha a piscina e, no meio, ela se afogou. Meu filho teve uma experiência parecida e também “bebeu água” (aspirou água) no primeiro dia de aula. Duas situações, em momentos e academias diferentes fizeram meus filhos ficarem com receio de entrar na natação e passar dificuldades na água. Destaca-se ainda que em ambos os casos, os professores estavam do lado de fora da piscina no primeiro dia de aula.

4 passos para o primeiro dia de aula de natação

A filosofia principal dos 4 passos tenta mostrar que: a prevenção começa fora d’água e continua dentro água.

Passo 1 – Entregar o folder

Quando uma pessoa manifestar o interesse em se matricular nas aulas de natação, sugere-se que ao finalizar a inscrição esse aluno receba um prospecto, folder, flyer, gibi ou outro material ilustrativo (feito pela instituição) sobre as regras de uso da piscina para natação. O ideal é que para cada público (crianças, adolescentes e adultos) exista um tipo de material informativo, que seja, também, atrativo aos olhos de quem lê/vê e, sobretudo, forneça informações preventivas sobre utilização da piscina nas aulas de natação.

Um bom exemplo de dizeres que podem ser incluídos neste prospecto preventivo para crianças são orientações do tipo: nunca entrar na piscina sem ter um adulto por perto; evite mergulhar de cabeça em piscina nas quais você não conhece a profundidade ou se você não domina esse tipo de mergulho, prefira o mergulho em pé (soldadinho); nunca empurrar alguém para dentro da piscina ou brincar de afundar o amigo; nunca correr em volta da piscina; no caso de cabelos longos, entrar sempre com os cabelos presos (touca de natação); veja bem onde estão os ralos (no fundo e nas laterais da piscina) e os bocais de aspiração (laterais da piscina) e fique longe deles; não brinque de ficar muito tempo embaixo d’água sem respirar, pois você pode ficar sem “ar” e desmaiar; caso veja alguma criança em situação difícil na piscina, chame um adulto e se der, jogue uma boia para ajudá-lo. Segundo Antonio dos Santos, Gestor da academia Acqua Fitness no bairro Recreio dos Bandeirantes no Rio de Janeiro, essas informações podem ser trabalhadas no dia a dia das aulas e com maior ênfase no período do ano em que ocorre a Semana Piscina + Segura.

Passo 2 – Preencher a anamnese

É importante que o professor de atividades aquáticas faça uma entrevista (anamnese), presencial ou virtual, com cada aluno antes de matriculá-lo nas aulas, para que se tenha parâmetros de saúde do aluno, visto que, na maioria das vezes, se trata de uma pessoa desconhecida e não se sabe nada sobre ela1.

De fato, para se conhecer o aluno iniciante é necessário que, no primeiro contato com o aluno, seja feita uma anamnese, termo que significa do grego aná = trazer de novo e mnesis = memória. Ela é parte importante que envolve a relação inicial de confiança entre professor e aluno, visto que é realizada pelo profissional de Educação Física que irá ministrar as aulas e tem o objetivo de colher dados sobre atividade física anteriores; história de doenças familiares e eventos cardiovasculares relacionados à prática de esportes. Neste se inclui a natação: se já praticou, por quanto tempo e onde; se já se afogou, em que local e se há sequela. Ademais, pergunta-se sobre seu estado de saúde, se faz uso de algum remédio, se já fez cirurgia, se sente alguma dor, se tem pressão alta, se é cardíaco, se teve Covid-19 etc. Trata-se de informações que podem implicar no exercício aquático que devem ser esclarecidos previamente e, sobretudo, relembrar todos os fatos a fim de ajudar na avaliação diagnóstica1.

Seja qual for a forma escolhida para colher informações (virtual ou presencial), por meio do questionário de anamnese, caberá ao professor que irá ministrar aula conferir presencialmente com o aluno ou responsável os dados que foram preenchidos e esclarecer possíveis dúvidas. É como a anamnese feita pela enfermeira antes de doar sangue, ela confere tudo que você marcou no questionário. Importante reforçar que os dados do aluno precisam estar disponíveis e de fácil acesso para que em situação de emergência possam ser acessados rapidamente para que seja possível entrar em contato com a pessoa mencionada para ligar em caso de incidente e/ou acidente.

Passo 3 – Entrar na área da piscina

Muitas piscinas têm a área do entorno escorregadia, o que faz aumentar os riscos de cair e se machucar ou até mesmo se afogar.  Uma sugestão para que isto seja amenizado é o professor caminhar com os alunos pelo entorno, apontar os riscos e apresentar as regras de utilização da piscina, tais como: aguardar no local demarcado até o chamado do professor para entrar na piscina; colocar os chinelos e os roupões no local combinado, guardar os materiais que usou; pedir ou avisar para sair da piscina; nunca fazer brincadeiras de empurrar na borda ou dentro da água e, sobretudo,  reforçar os comportamentos mais seguros por meio de estratégias coerentes para cada faixa etária. No caso de aluno bebê ou criança pequena, informe aos responsáveis (familiares ou acompanhantes).

A experiência dos profissionais

Passo 4 – Mensurar a aquacidade

No primeiro dia que o aluno entrar na piscina o professor deve realizar o teste de nível de aquacidade, ou seja, verificar o quanto ele está ambientado ao meio líquido. Aquacidade está relacionado com o grau de adaptação de uma pessoa ao meio líquido e suas condições de autossustentação, domínio da respiração aquática, deslocamento no ambiente aquático, consciência corporal e poucas chances de se afogar. O teste vem sendo realizado desde 2004 e já sofreu diversas atualizações. Busca-se identificar a afinidade com meio líquido e consiste em 10 itens, que vale um ponto cada quando realizados corretamente e que são avaliados preferencialmente na primeira aula de natação. O teste faz parte da metodologia da natação + segura, que valoriza primordialmente a segurança do aluno e a familiarização com o meio líquido antes do ensino dos quatro estilos. Trata-se de uma abordagem que evidencia, nos primeiros meses de aula de natação, ações que venham a prevenir o afogamento, traumas ou situações que prejudiquem o aprendizado dos quatro nados2.

Lembre-se que o primeiro dia de aula de natação, a avaliação, não pode ser algo traumatizante. O conceito nesta avaliação diagnóstica é de autocompetição (o aluno sendo comparado com ele mesmo) e não de hetero competição (o aluno comparado com os outros alunos antigos na natação). O que se deseja é uma fotografia sobre a realidade atual, algo transversal, onde se registra o dia de entrada na natação. Essa avaliação pode ser feita de forma lúdica, descontraída e acolhedora. Ao se perceber que o aluno não consegue realizar algum dos itens propostos no teste, o professor não vai constranger o aluno. Vai lidar com isso naturalmente. Após algumas semanas, será feita uma nova avaliação formativa para comparar a evolução do aluno.

Ao usar esta progressão e valorizar cada passo, um de cada vez, dá-se um grande salto para contribuir com a redução de acidentes no meio líquido e, sobretudo, diminuir os traumas de primeiro dia da aula de natação. Dê primeiro 4 passos para depois nadar com segurança.

Por fim, deixo duas reflexões que ouvi do Médico David Szpilman “prevenir é salvar” e a do meu pai “perca um minuto na vida, mas não perca a vida em um minuto”.

Referências bibliográficas

  1. Vasconcellos, Marcelo Barros. Anamnese para natação e hidroginástica. Revista Empresário Fitness & Health. Edição 90. Junho de 2020.
  2. Vasconcellos, Marcelo Barros. Natação + Segura. Revista Empresário Fitness & Health. Edição 87. Março de 2020.

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