Pesquisar
logotipo-refh-transparente

Publicidade

[uam_ad id=”3500″]

Avaliação diagnóstica na hidroginástica

Colunista: Marcelo Barros de Vasconcellos

Publicidade

A hidroginástica teve seu início e desenvolvimento na Alemanha, visando a atender, inicialmente, um grupo de pessoas com mais idade, que precisava praticar uma atividade física mais segura, sem causar riscos ou lesões às articulações, e que lhes proporcionasse bem-estar físico1 e mental2. No Brasil, esta modalidade física é praticada há 30 anos, aproximadamente, mas nunca teve tantas variações de aulas como hoje, mais de 200 tipos3.  

Trata-se de uma das atividades físicas mais democráticas, pois é praticada por públicos variados como obesos, hipertensos, gestantes e portadores de doenças articulares (artrite, artrose e osteoporose). Também não impõe limites de idade e o seu sucesso, principalmente para a terceira idade, ocorre pela leveza através da flutuação que o meio líquido proporciona e as reduções no impacto articular, pressão arterial e frequência cardíaca, que possibilitam maior segurança para o praticante4

Contudo, como não é pré-requisito saber nadar para fazer hidroginástica, muitos alunos praticantes dessa atividade física se matriculam sem saber nadar e, por isso, nos exercícios em que os dois pés saem do chão, nas mudanças de direção ou quando os alunos trabalham na parte funda da piscina a atenção deve ser redobrada5. Por isso, o planejamento da aula deve atentar para o perfil do aluno6

Prevenção de acidentes

Acidentes são evitáveis e o afogamento previsível7, sendo dever do profissional aquático fazer o esforço para prevenir a ocorrência deles8.  Para que a aula de hidroginástica seja mais segura, é importante que o professor de Educação Física oriente o aluno como ele deve se comportar na piscina e seu entorno, pois um descuido pode gerar afogamento ou algum acidente no ambiente aquático.  

Assim, o objetivo deste texto é alertar sobre a necessidade de avaliação diagnóstica e ações preventivas fornecidas por professores de hidroginástica de locais que oferecem este tipo de aula. Sobretudo, faz-se necessária a indicação de algumas medidas para que o exercício aquático, além de benéfico9, seja mais seguro para o praticante de hidroginástica, principalmente os com pouca aquacidade, sendo esta relacionada ao grau de adaptação de uma pessoa ao meio líquido e suas condições de se autosustentar, dominar a respiração aquática, deslocar no ambiente aquático, ter consciência corporal e poucas chances de se afogar10.  

Aliás, o afogamento tem sido uma preocupação não só com alunos iniciantes em atividades aquáticas, mas também das federações internacionais de natação, que têm investido em programas de prevenção de afogamento para nadadores11.  

Medidas preventivas contra acidentes em piscinas

Inicialmente, recomenda-se que o gestor do estabelecimento que oferece aula de hidroginástica vacine a sua piscina com as cinco medidas preventivas, do Programa Piscina + Segura, criadas por nós, da Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático, desde 2013:

(1) atenção 100% no seu filho;
(2) guarda vidas presente;
(3) urgência saiba agir;
(4) acesso restrito: cerque a piscina;
(5) sucção: use ralos anti-sucção e meios de interrupção de bomba12

Atualmente as academias focadas na prevenção de acidentes têm dado especial atenção, na sua construção, para que o ambiente aquático seja mais seguro e tenha também acessos para saída fácil, áreas de chuveiro para banho antes de entrar na piscina, avisos de profundidade, bordas com proteção, escadas com corrimão, degraus largos bem afixados, piso antiderrapante e sem água acumulada e com o tratamento da água constante para mantê-la cristalina com PH e cloro estabilizados. 

Uma das regras de segurança mais importantes para os gestores dos espaços que oferecem hidroginástica é a norma de “proibido mergulhar”. Em qualquer condição física temporária que possa ser causa de risco, como piso escorregadio, deve-se usar a sinalização adicional para indicar. Quando uma condição temporária se torna um transtorno contínuo, ela deve ser reparada imediatamente.   

Os gestores devem incluir marcos de segurança que sejam permanentes e que indiquem a mudança de profundidade, inclinação em água profunda, degraus, bordas ou plataformas submersas e quaisquer mudanças inesperadas na superfície da piscina. Os marcos de segurança devem ser instalados durante a construção de toda nova piscina, e podem ser facilmente acrescentados às piscinas já existentes. 

Outro fator importante é a averiguação, por parte do gestor, se o número de participantes é compatível com uma observação segura do professor, e se este último sabe atuar em caso de uma emergência aquática. A segurança na água é vital e uma rotina de emergência deve estar preparada e toda a equipe de funcionários precisa estar completamente ciente dela, além de possuírem habilidades de reanimação cardiopulmonar (RCP).

Dessa forma, devem ser seguidos certos procedimentos por parte dos professores de hidroginástica para que a segurança dos alunos seja constante. Os professores têm que ter uma visão de todos os alunos durante a aula e evitar ficar de costas para a turma, mesmo nas situações de busca por material ou preparação do som para aula. 

Testando a aquacidade do aluno iniciante

Importante mensurar o grau de aquacidade de de cada aluno iniciante (teste de aquacidade para hidroginástica) para personalizar os exercícios ao nível de habilidade aquática. Se os alunos tiverem pouca aquacidade e não estiverem à vontade no meio líquido (hidrofobia), os movimentos não podem ser executados perfeitamente. O professor precisa adaptar gradativamente os alunos iniciantes para que a caminhada, corrida, exercícios de flutuação e deslocamento ocorram sem risco de escorregar ou afundar.

Ademais, deve saber identificar os eventuais sinais de medo do aluno: olhos arregalados, respiração rápida e superficial e face vermelha. Essas pessoas vão precisar de um período de adaptação mais cuidadoso e, normalmente, se sentirão mais confortáveis exercitando-se perto das bordas, segurando na barra ou com o professor dentro d’água segurando sua mão. Se o aluno está disposto a entrar na piscina, inicie a aula com exercícios que possam ser realizados na vertical (com pé no chão) em profundidade mais rasa. Deve-se evitar prescrever exercícios que requeiram submersão da cabeça ou exposição à água profunda. Lembre-se que o exercício que apresenta os menores riscos e maiores resultados é o melhor exercício, visto que resulta na melhor relação custo-benefício. 

Ficou interessado nesse artigo?

Assine a REF&H por R$ 120,00/ano e tenha acesso a mais de 300 artigos, além de todo o acervo (mais de 2000 artigos) disponível em formato digital em nosso site.

Apesar de não haverem exercícios contraindicados e sim pessoas contraindicadas para determinados exercícios, alguns oferecem uma relação custo-benefício muito baixa e só deverão ser utilizados com muita supervisão e critério, já que dificilmente serão executados da maneira adequada e/ou eficaz por sedentários ou iniciantes.  

Dicas para alunos que iniciam a hidroginástica

A seguir são apresentadas dicas de prevenção de acidentes aquáticos para professores e gestores de piscinas oferecerem a seus alunos iniciantes:

  • Responder ao questionário de anamnese e mencionar qualquer limitação que possa influenciar no exercício aquático; 
  • Estar com atestado médico indicado como apto para a prática de hidroginástica; 
  • Não chegar atrasado para não pular etapas da aula, pois todas as etapas são importantes para atingir o seu objetivo e prevenir acidentes; 
  • Aquecer, de forma gradativa, antes de juntar-se à turma, em caso de atraso; 
  • Passar na ducha antes de entrar para a aula molhando pulso e face para evitar choque térmico; 
  • Evitar o uso de cremes de cabelo e/ou hidratante em excesso, pois os mesmos podem alterar o pH da água; 
  • Usar chinelo para percorrer a distância até a piscina e deixá-lo de forma que o mesmo não obstrua a passagem; 
  • Não permitir o uso, na borda da piscina, do mesmo calçado que vem da rua;  
  • Conhecer a profundidade da piscina e a temperatura da água antes de entrar; 
  • Informar qualquer restrição médica surgida ou alguma infecção que ainda não foi reportada ao professor; 
  • Entrar na piscina de maneira segura, pela escada; 
  • Levar uma garrafa de água para a borda da piscina a fim de manter-se hidratado; 
  • Ter presença regular nas aulas e fazer exercícios pelo menos três vezes por semana; 
  • Comunicar sempre, ao professor, quaisquer anormalidades durante a aula associadas ou não ao exercício e parar quando sentir desconforto ou dor; 
  • Manter o alinhamento apropriado do corpo (joelhos relaxados e posição neutra da coluna), evitando a acentuação demasiada de suas curvaturas naturais; 
  • Parar, alongar e massagear o músculo quando tiver cãibra; 
  • Não usar objetos infláveis, colchões de ar ou suportes artificiais se não estiver familiarizado com o material e sob supervisão do professor; 
  • Participar na aula de forma ativa de acordo com sua aptidão física; 
  • Respeitar a individualidade e não competir com o outro aluno (respeitar os seus limites); cada pessoa tem o seu próprio ritmo durante os movimentos; 
  • Evitar conversar durante os exercícios, concentrar-se nos grupos musculares que estão sendo trabalhados; 
  • Respirar de forma natural, nunca bloquear a respiração; 
  • Em exercícios com saltos, realizar a queda de maneira segura; 
  • Perguntar ao professor como proceder em caso de alguma dúvida; 
  • Realizar a aula com os pés apoiando o fundo e nunca na ponta dos pés; 
  • Orientar os alunos a utilizarem roupão de banho em locais onde a distância entre a piscina e os vestiários apresente corrente de ar; 
  • Acompanhar, no final da aula, a subida de cada aluno na escada, pois ele volta a sentir o seu real peso corporal e pode ter tontura. 

Dicas de segurança para gestores de piscinas com aulas de hidroginástica

  • Elaborar placas sobre os riscos comportamentais: correr, mergulhar ou saltar e uso não autorizado além do horário normal; 
  • Evitar deixar a água turva, superfície do deque molhada, escorregadia e acesso aberto para piscina; 
  • Armazenar cloro, ácidos líquidos e substância de limpeza em local onde o aluno não tenha acesso;  
  • Marcar as saídas de emergência de forma clara na área da piscina/vestiários; 
  • Ter um sistema de comunicação que esteja disponível para o professor falar com outros profissionais; 
  • Evitar choques elétricos através de eliminação de fiação exposta (parte elétrica sempre inspecionada); 
  • Manter lista de telefones importantes (192, 193 e hospitais conveniados) para casos de emergência; 
  • Nunca permitir que alguém entre na piscina sem a presença de um membro da equipe; 
  • Manter equipamentos de emergência próximos à piscina e com inspeção regular; 
  • Adequar os meios de entrada na piscina, como escadas e rampas, de forma apropriada ao perfil dos alunos; 
  • Verificar se as barras, rampas e escadas estão bem fixadas e em boas condições de uso; 
  • Não deixar material/equipamentos de aula expostos de forma que prejudique a circulação dos alunos; 
  • Instalar dois ralos com tampa anti-aprisionamento de cabelos e botão de desligamento de bomba de aspiração da piscina; 
  • Realizar manutenção periódica em toda área da piscina; 
  • Disponibilizar estagiário(s) ou professor(es) assistente(s) em caso de turmas numerosas, principalmente de terceira idade, para dar mais atenção aos alunos e atuar em caso de alguma emergência; 
  • Criar mecanismos que possibilitem a circulação de ar em piscinas cobertas e aquecidas. 

Na busca de uma hidroginástica + segura foi desenvolvido um teste diagnóstico de aquacidade para alunos iniciantes na hidroginástica (Quadro 1). O teste foi ajustado inicialmente para natação13 e adaptado para a hidro posteriormente (ainda em aprimoramento). Após o teste de aquacidade, o aluno pode vivenciar a sua primeira aula formal com o professor e o mesmo irá adaptar a aula para melhorar as suas habilidades aquáticas (nível de aquacidade). O professor acompanha e reavalia cada aluno após três meses ou quando achar necessário, identificando a progressão do aluno e fornecendo feedback sobre o que o aluno precisa trabalhar mais para melhorar a aquacidade14

Quadro 1: Teste diagnóstico de nível de aquacidade para Hidroginástica + Segura   

Consegue realizar a atividade a ser testada? 

Resposta 

Sim 

Não 

1. Caminhar na parte rasa – água entre altura da cintura e ombro – 10 metros. 

(    ) 

(     ) 

2. Correr na parte rasa – água entre altura da cintura e ombro – 10 metros. 

(    ) 

(     ) 

3. Agachar, afundar em pé e saltar com as mãos fora d’água – 3 vezes. 

(    ) 

(     ) 

4. Sustentar a flutuação na vertical com uso de pernadas e palmateios – 30 segundos.  

(    ) 

(     ) 

5. Flutuar decúbito dorsal sem auxílio de materiais – 30 segundos. 

(    ) 

(     ) 

6. Mudar da posição vertical para horizontal sem colocar pé no chão – 3 vezes. 

(    ) 

(     ) 

7. Utilizar os 4 membros como segmentos propulsivos “nadar” até a borda – 10 m.  

(   ) 

(    ) 

8. Pedalar com auxílio do flutuador (“macarrão”) entre as pernas – 10 metros. 

(    ) 

(     ) 

9. Afundar a cabeça na água sem medo e soltar o ar (controle respiratório) – 3 vezes. 

(    ) 

(     ) 

10. Realizar (apneia estática) bloqueio da respiração embaixo d’água – 10 seg – 3 vezes. 

(    ) 

(     ) 

Quando o aluno conseguir realizar a atividade sozinho a resposta sim valerá um (1) ponto.   

Total de pontos: _________ 

Resultado do nível de aquacidade é a soma de cada sim (1 ponto) obtido nas 10 atividades testadas. 

(      ) 0-2 pontos –   Aquacidade Muito Fraca. 

(      ) 3-4 pontos –   Aquacidade Fraca. 

(      ) 5-6 pontos –   Aquacidade Média. 

(      ) 7-8 pontos –   Aquacidade Boa. 

(      ) 9-10 pontos – Aquacidade Excelente. 

O fato de o aluno ter excelente aquacidade não significa que o professor deva deixar de dar atenção a este aluno, que terá mais segurança ao fazer os exercícios em flutuação e continuará sendo supervisionado. Saber o nível de aquacidade é importante no planejamento da aula e será um norteador dos exercícios que poderão ser propostos para que o aluno consiga executar sem risco de se afogar. Assim, mesmo com toda a evolução e variedades que a hidroginástica possui atualmente, ela continuará sendo uma atividade aquática segura como idealizada na sua criação.  

Relato de professores que conheceram a Hidroginástica + Segura

Procuro aprimorar minhas aulas ao máximo, respeitando a limitação de cada aluno e variando exercícios e materiais para ter sempre uma aula de qualidade.
Marília Karolline
Catiguá Tênis Clube
Consegui aplicar gradativamente exercícios mais complexos, percebi a melhora da autoconfiança e excelente retorno por parte dos alunos.
Sandra Valéria
Academia Aquarius, em Itatiaia, RJ

Agradecimento a Michelem Vicente Abreu e David Szpilman que leram a primeira versão do texto e deram sugestões.

Referências

  1. VASCONCELLOS, MB. O olhar cuidadoso do professor de hidroginástica. In: congresso carioca, 2012, Rio de Janeiro. Congresso carioca. Rio de Janeiro: Revista Carioca de EF, 2012. 
  2. BENTO-TORRES NVO, BENTO-TORRES J, TOMÁS AM, SOUZA LGT, FREITAS JO, PANTOJA JAS, DINIZ CWP. Water-based exercise and resistence training improve cognition in older adult. Rev Bras Med Esporte. 2019;25(1):71-75. 
  3. VASCONCELLOS, MB. Hidro Variações. Rio de Janeiro: Shape, 2010. 
  4. REICHERT T, PRADO ALKG, KANITZ AC, KRUEL LFM. Effects of water based exercise on the functional capacity in older adults: meta analysis of randomized trials. Rev Bras Ativ Fis Saúde. 2015;20(5):447-57. 
  5. COSTA G, AFONSO S, BRAGADA JA, REIS VM, BARBOSA TM. Estudo comparativo das adaptações fisiológicas agudas durante a execução de três variantes de um exercício básico de Hidroginástica. Rev. Bras. Cineantropom. Desempenho Hum. 2008;10(4):323-329. 
  6. OLKOSKI MM, MATHEUS ISC, MORAES EC, TUSSET D. Metodologia para o planejamento de aulas de hidroginástica. Motri.  2013;9(3):36-43. 
  7. HOZA JJG, FORTES BPA. Ahogamientos associados con piscinas implicados en casos judiciales de España, 2000-2015. Rev Andal Med Deporte. 2017;10(3):106-111. 
  8. VASCONCELLOS MB, ABREU MV, SZPILMAN. Drowning Prevention Measures for Swimming Academy Owners. World conference on drowning prevention. International Life Saving. Abstract Book. África do Sul: Durban, 2017;1(1)165-66. 
  9. KRUEL LFM, COSTA RR, KANITZ AC, LIEDTKE GV. Treinamento de força no meio aquático: uma revisão sobre os aspectos históricos, fisiológicos e metodológicos. R. Bras. Ci. E Mov 2018;26(2):176-85. 
  10. VASCONCELLOS, MB. Natação Monitorada. Testes desde aquacidade até o nível avançado. São Paulo: Paco editorial, 2019.  
  11. DIAS CP, MARQUEZ JCDC, CASTRO NR, MARTIN BC.  Health Initiatives in National Pan-American Swimming Federations. Rev Bras Med Esporte. 2017;23(6):477-82. 
  12. SZPILMAN D & DIRETORIA Sobrasa 2018-22. Afogamento – Boletim epidemiológico no Brasil 2019. Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (SOBRASA) – Publicado em http://www.sobrasa.org, agosto 2019. 
  13. VASCONCELLOS, MB. SZPILMAN, D. QUEIROGA, AC. MELLO, D. Swim + safe: test for diagnostic evaluation and monitoring of water skills of beginner students. World conference on drowning prevention. Canada: Vancouver, 2017.
  14. VASCONCELLOS, MB. Teste de aquacidade para natação monitorada. Revista Saúde Física & Mental. Uniabeu. 2019;7(1):1-6. 

Leia outros artigos

O que achou desse artigo?

Publicidade

Publicidade

Publicidade

REF&H
Enviar