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Natação: da piscina para águas abertas com segurança

Colunista: Marcelo Barros de Vasconcellos

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Nadar em piscina é considerado uma modalidade de natação em águas fechadas, calmas, pois existem paredes que norteiam e limitam o local da prática. No entanto, quando a natação acontece em local aquático natural (lagos, rios, canal, mar aberto) é chamada de natação de águas abertas (NAA). Já a natação de grandes distâncias, normalmente, toma a forma de travessias ou maratonas.

Natação de águas abertas é a modalidade de natação praticada em local onde não existe qualquer dispositivo facilitador como raias e blocos de saída, aos quais os nadadores de piscina estão acostumados1. É praticada em diferentes espaços com água doce ou salgada, em águas paradas ou com correntes significativas, com temperaturas variáveis e, algumas vezes, com fortes ondulações e ventos que deixam a água turbulenta1. O nado crawl é o mais utilizado nessa modalidade, por ser considerado a forma mais eficiente de deslocamento aquático1. No entanto, há quem prefira nadar estilo peito para ir mais devagar e olhando para frente, ou até intercalar o crawl com o costas para conseguir ver o que já nadou e descansar um pouco.

Nadar em piscina é diferente de nadar em águas abertas. É importante que os professores ajustem o plano de treinamento de acordo com a especificidade da natação em águas abertas2. Por exemplo, para realizar natação de águas abertas, o aluno precisa aprender a nadar na mesma direção quando não existe uma linha no fundo que lhe sirva de guia. A maior parte dos professores aconselha a observarem pontos de referências fixos como (prédios, ilhas, montanhas, árvores) durante o nado. Para isso, o aluno precisará realizar respirações frontais a cada intervalo pré estabelecido (por exemplo a cada 10 braçadas) ou quando sentir necessidade de orientação espacial. Se conseguir fazer isso, terá solucionado um importante item da natação em águas abertas (senso de direção).

Aprendi a nadar em piscina e a primeira vez que nadei em águas abertas foi no mar no projeto Botinho do Corpo de Bombeiros, do G-mar da Barra da Tijuca, em 1994.  Nessa ocasião, não tive medo de nadar em águas abertas porque estava acompanhado de guarda vidas experientes, pois jamais nadaria sozinho no mar. Em 1996, fiz curso de guarda vidas e passei a nadar no mar, mas sempre evitei nadar sozinho e nunca parei de nadar em piscinas. Formado em Educação Física, com especialização em atividades aquáticas passei a me empenhar no ensino de natação em piscina e por isso me afastei um pouco da natação em águas abertas. No entanto, durante a quarentena, com o fechamento das piscinas, voltei a nadar em águas abertas e conheci o Prof. Carlos André M. Daltro que ensina a nadar no mar, faz travessias com seus alunos na Praia de Boa Viagem e Praia das Flechas, que ficam localizadas próximas ao Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Niterói, um dos ícones da cidade.

O professor Carlos foi estímulo para que eu voltasse a nadar no mar e desfrutasse das braçadas em águas abertas. Vi que ele acompanhava seus alunos (cerca de 30). Eles tinham boia, touca colorida, macarrão e apito. Aos alunos iniciantes, ele ensinava no raso e os avançados faziam o contorno na ilha dos Cardos ou nadavam até a praia das Flechas. Ao ver tanta gente nadando nesse local passei a nadar com uma boia presa ao corpo e com filho e/ou esposa me acompanhando no Stand Up. Tem sido uma experiência muito agradável nadar e ainda ter a companhia da família.

O Prof. Carlos acreditava que para aprender a nadar o melhor local era a piscina, no entanto, mudou de opinião e mencionou que as condições da praia das Flechas (parte rasa e sem ondas) favorecem ao ensino do iniciante na natação. Como o aluno consegue ficar em pé é possível realizar uma adaptação ao meio líquido (melhora da aquacidade) de maneira progressiva e sem risco de afogamento.

Perfil dos nadadores de águas abertas

Pesquisa feita em outubro de 2020 com 67 nadadores para identificar o perfil dos nadadores de águas abertas de Niterói, identificou que a maioria (62,7%), assim como eu, começou a fazer NAA nos últimos três a seis meses, período que coincide com o fechamento das piscinas no período de quarentena o que obrigou as pessoas a buscarem um novo local para nadar.

Além disso, a pesquisa identificou que 53,7 % eram do sexo masculino, 88,1% moradores de Niterói, 37,3% nadam três vezes por semana, 70,1% realiza de uma a duas horas de treino diário de natação, 25% nada uma distância média por dia entre 1600 a 3.800 metros e 85,1% deles responderam que treinam com acompanhamento de professor de Educação Física.

Ao fazer pesquisa de campo, verifiquei que a Professora Nancy Riquelme, tem alunos desde iniciantes até atletas internacionais nadando com ela nessa área de Boa Viagem. A Professora Nancy ensina aos seus alunos, por exemplo, a percorrer um trajeto retangular que ela demarca com boias na água e os orienta quando a boia vai estar do lado esquerdo ou direito do ombro para indicar como eles devem fazer a curva na boia. Para Nancy, todo dia é um mar diferente! Calmo, ondulado, marolado, com correntes, vento… adversidades que fazem você pensar; igual a sua vida diária!

Para a Professora Mirella Salomon, nadar em águas abertas é superação. Já para o Professor Carlos, é vencer barreiras, gratificante, relaxante, além do aprendizado e evolução do aluno ser mais rápido, a ponto de, quem consegue nadar 1.000 metros em piscina, no mar conseguir nadar 3.000 metros.

O olhar da turismóloga

Para a Professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), Fatima Priscila Morela Edra, Niterói é um município denominado como Cidade Ativa, pois na orla de Niterói, além da natação em águas abertas, as pessoas podem caminhar, correr, praticar canoa havaiana, mergulho, stand up, remo, opitmist, dingue, kitesurf, windsurf, beach polo, beach handebol, beach tennis, futevôlei, altinho, frescobol, peteca, vôlei de praia, futebol de praia, slingline, treinamento funcional, tecido acrobático entre outros. De fato, a pesquisa mostrou que 98,5% dos entrevistados consideram Niterói uma cidade ativa e 47% chegam para nadar em águas abertas de forma ativa por meio de bicicleta ou a pé.

Relato de experiência

O servidor público Felipe Barros, que nadou pela primeira vez no mar da praia de Boa Viagem à praia das Flechas, achou ótima a experiência e mencionou que valeu a pena percorrer 70km de onde mora até Niterói para nadar em águas abertas, no entanto ressaltou que sozinho não faria o percurso, mas como teve a companhia de um amigo no mar, se sentiu mais seguro.

Benefícios de nadar em águas abertas

A natação em piscina oportuniza muitos benefícios, no entanto, a NAA oportuniza ao praticante outras vantagens, tais como: a melhora da saúde, do condicionamento físico, da socialização, da qualidade do sono, da autonomia do mar, além de proporcionar prazer em nadar na natureza, maior liberdade e evitar que o nadador fique em local fechado indo e voltando na piscina.

Desvantagens de nadar em águas abertas

Nadar em águas abertas também tem inconvenientes tais como: não ter a borda para segurar ou descansar, dificuldade para nadar em linha reta, principalmente em locais que têm ondas ou correnteza, diminuição da visibilidade embaixo d’água, risco de arranhar os pés ao pisar em alguma pedra, em alguns locais onde a qualidade da água não é boa, há sujeira na água o que gera um risco de contaminação, além de existir objetos ou plantas aquáticas flutuando, o que pode prejudicar o nado.

Dicas de segurança para o nadador de águas abertas

  • Responder a anamnese com seu professor e relatar problemas de saúde e suas dúvidas sobre NAA antes de iniciar os treinos.
  • Monitorar e acompanhar as mudanças de tempo e temperatura antes de iniciar o nado, pois isso ajudará a não ser pego desprevenido e a identificar se o local estará com ondas/correntezas no horário que pretende nadar.
  • Verificar se o local possui risco de ataque por animais para evitar sustos e imprevistos.
  • Começar a praticar em áreas mais rasas, onde seja possível colocar os pés no chão, para facilitar a familiarização com NAA e vivenciar uma natação + segura.
  • Desenvolver a aquacidade antes de nadar em águas abertas distante da margem, em especial, dominar a flutuação vertical.
  • Buscar orientações de professor de natação especialista em águas abertas porque ele pode ajudar a ser mais eficiente ao esclarecer particularidades da NAA.
  • Fazer adequada hidratação antes e depois de nadar para evitar a desidratação.
  • Usar roupa de borracha com um material flexível (neoprene de 3/2 mm) que é mais fácil de vestir, dá liberdade de movimentos, ajuda a proteger do sol forte, de eventuais assaduras, do frio (evita hipotermia), tanto dentro quanto fora d’água.
  • Usar uma boia sinalizadora, toucas, maiôs ou sungas coloridas para ficar sempre visível. Isso ajudará embarcações ou jet-ski a desviar do nadador, além de permitir que pessoas lhe achem caso você precise de ajuda.
  • Aumentar as distâncias diárias de nado de forma gradual, sem se basear pelos outros nadadores que já nadam em águas abertas a mais tempo.
  • Respeitar a individualidade biológica do nadador e individualizar a natação.
  • Nadar sempre acompanhado como forma de prevenção de acidentes.
  • Planejar uma rota antes de começar para evitar se cansar e não ter forças para retornar à área seca.
  • Ter cuidado quando tiver muita gente fazendo NAA juntos para não ganhar uma cotovelada /pernada, que poderia causar uma lesão e até, em alguns casos, desmaio. Se for possível, mantenha distância de 1,5m – 2m de pessoas próximas.
  • Aprimorar a noção de distância e direção porque com água em todas as direções ocorrem distorções da real distância a ser percorrida. Existem relógios que hoje fornecem com precisão a localização e distância nadada.
  • Atentar para objetos que possam estar flutuando que podem atingir o rosto durante o nado e são inconvenientes.
  • Prever os riscos para que não precise depender de outras pessoas para salvá-lo caso alguma coisa aconteça.
  • Avisar ao guarda vidas que acompanha o local ou a alguém sobre seus planos antes de cair na água para nadar.
  • Evitar o pânico em situações adversas. Já levei sustos com cardumes e arraia pulando na minha frente enquanto nadava. Mantenha a calma, pois a tensão pode gerar estresse, câimbra e gasta energia desnecessária.
  • Evitar aspirar/engolir respingos de água durante o nado principalmente se for água salgada ou com impurezas.
  • Treinar a respiração frontal e bilateral para ajudar a visualizar as ondas, margem ou usar como referência, durante o trajeto, para visualizar pontos para chegar ao destino.

Professores de natação que dão aulas em piscinas precisam ensinar seus alunos a terem comportamentos de natação + segura em diversos ambientes aquáticos, sejam eles abertos ou fechados. É preciso desenvolver a aquacidade e autonomia dos alunos para que o lazer em praias, rios, lagos e cachoeiras sejam sempre realizados de forma a não terem risco de afogamento ou qualquer acidente nesses ambientes. 

De fato, quando a pandemia acabar, continuarei a nadar tanto em águas abertas como em piscina. Acredito que não precisa haver um hiato entre piscina e águas abertas, afinal, ambas são benéficas para saúde. Assim, espero que você, professor de natação, estimule seu aluno a nadar com segurança em águas calmas (piscinas), assim como a nadar em águas turbulentas (abertas). Nade pela vida!

Referências

  1. Freitas Filho JBQ, Lima JS, Lima EJ, Cunha JA, Cunha DP, Lima DLF. Perfil dos praticantes de natação em águas abertas da cidade de Fortaleza – Ceará. Motricidade. 2018;14(1):336-40.
  2. Zacca R, Neves V, Silva OT. et al. 5 km front crawl in pool and open water swimming: breath-by-breath energy expenditure and kinematic analysis. Eur J Appl Physiol; 2020;120,2005–2018.

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