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Escolha de estágio em atividades aquáticas durante a pandemia

Colunista: Marcelo Barros de Vasconcellos

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Estagiar faz parte da formação do profissional de Educação Física, independente da área que deseja atuar. Estágio é quando o graduando passa algum tempo nalgum lugar para aprender, experimentar, vivenciar, acompanhar, praticar e sobretudo é aprimoramento profissional. Estágio não é subemprego, é um período, em campo, para o habilitar a exercer bem a sua profissão.

Com a pandemia da Covid-19, além da dificuldade de encontrar locais abertos para fazer estágio, houve migração do ensino presencial para online, com isso, os futuros professores de atividades aquáticas ficaram com duplo problema: sem poder vivenciar as aulas práticas de atividades aquáticas na faculdade e tão pouco, ir a campo estagiar.

Algumas escolas de natação ficaram um tempo sem receber estagiários de Educação Física, pois estavam fechadas no aguardo de orientações para retorno de forma segura para evitar a disseminação da Covid-191. De acordo com os donos de academias de natação, com a ausência das aulas práticas na faculdade, mudou o perfil do estagiário que passou a chegar quando foram reabertas as academias. Os graduandos passaram a chegar para o estágio sem os conhecimentos práticos básicos de atividades aquáticas.

Estudo recente de Farias et al. (2021), traz um questionamento sobre este tema e indaga se seria suficiente para o graduando do curso de Educação Física possuir um repertório teórico na maneira de ensinar a natação sem, contudo, dominar essa prática corporal ou, ainda, se o fato de o aluno vivenciar as atividades na disciplina sem o domínio básico do meio líquido não afetaria, em algum sentido, sua formação2.  

Para os estagiários que não sabem nadar ou que possuem pouca experiência com atividades aquáticas, o local escolhido para estágio pode, além de ajudar a melhorar a sua aquacidade, oportunizar experiências enriquecedoras que farão diferença no mercado de trabalho deste futuro profissional.

Outro ponto que impacta da formação do estagiário é que, no decorrer dos últimos anos, algumas faculdades reduziram a carga horária da disciplina de atividades aquáticas para apenas 60h e outras faculdades a tornaram optativa. Com isso, o estagiário passou a ter menos aulas sobre a temática aquática e coube ao local escolhido para estagiar a função não de aprimorar o que estudou na graduação, mas sim de apresentar as atividades aquáticas para o graduando.

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Diferencial do estágio na área aquática

Para quem vai trabalhar com atividades aquáticas é importante “escolher” onde vai cumprir a carga horária obrigatória de estágio, para que possa pôr em prática os conhecimentos “adquiridos” e “vivenciados” na graduação.

O estágio na área aquática difere das demais subáreas da Educação Física, dada a periculosidade do meio aquático e responsabilidade que o professor precisa ter com seus alunos neste ambiente.

Um descuido do professor na quadra de esportes, por exemplo, pode ocasionar uma trombada, um machucado, contusão ou algo semelhante. Já no meio líquido, uma simples distração do professor pode fazer com que ele não perceba um mergulho do aluno em área rasa ou um afogamento, situações essas, que podem deixar o aluno paralítico ou até ocasionar morte.

No ambiente aquático, não há espaço para negligência. Esta, por sua vez, ocorre quando um profissional comete (ou deixa de cometer) um ato que uma “pessoa sensata” ou outro profissional (não) cometeria. Ela consiste em comportamento abaixo do padrão estabelecido pela lei para proteção de outros contra lesão, ou estabelecido por uma organização profissional como padrão ou dever de assistência4.

Assim, estagiar no meio aquático deve ser, antes de tudo, uma experiência que prepare o estagiário para atuar na prevenção de acidentes. Para isso, especialista na área aquática propõe que o estagiário adote a filosofia da prevenção sempre começar fora d’água e continuar dentro d’água4.

A “escolha” do local para estagiar

Dentre os motivos mais citados que fazem o estagiário escolher o local para realizar o estágio supervisionado em atividades aquáticas estão:

1) Proximidade – escolher locais para estagiar onde a distância é curta em relação à residência ou próximo da faculdade é uma boa opção. Assim, o estagiário irá perceber que chegar no estágio vai ser mais fácil e levará menos tempo. Além disso, há mais custo financeiro quando o local do estágio é distante fazendo com que o deslocamento para estagiar gere perda de tempo e diárias no transporte. Este tempo de deslocamento pode ser melhor aproveitado se o estagiário encontrar um local que já esteja no seu trajeto para a faculdade ou próxima da sua residência.

2) Infraestrutura – vivenciar locais onde existem equipamentos modernos, piscina aquecida, diversidade de aulas e boa estrutura podem contribuir para que o estagiário vivencie as novidades no setor aquático, no entanto, o estagiário precisa vivenciar, também, locais com poucos equipamentos e piscinas sem aquecimento. Assim, ele terá vivenciado a experiência de atuar, seja com muita ou pouca infraestrutura. Locais onde existem poucos equipamentos fazem com que o estagiário desenvolva a criatividade e saiba aproveitar equipamentos alternativos para as aulas.

3) Salário – existem estagiários que estão mais preocupados com quanto irão ganhar financeiramente e esquecem do quanto podem adicionar à sua formação ao escolherem locais que estão comprometidos com os colaboradores. Existem locais onde o aprendizado e contributo para a formação são tão grandes, que estagiários deveriam não receber e sim pagar para poder aprender com aqueles profissionais que ali estão comprometidos com a formação. Dito isto, no estágio, não é o momento de focar no salário e benefícios que a instituição oferece. Estágio é momento de aperfeiçoar a formação. Obviamente, se puder conciliar a “escolha” do local onde possa haver uma bolsa de auxílio e comprometimento com a formação, será ótimo.

4) Capacitação – muitos locais de atividades aquáticas oferecem cursos gratuitos para sua equipe profissional. De fato, procurar um local para estagiar que possui uma política de capacitação dos estagiários (colaboradores) será uma oportunidade para aliar a teoria com a prática aquática, ainda mais para aqueles que não tiveram aulas práticas na graduação.

5) Contratação – a contratação não deve ser a maior motivação no estágio. O estagiário deve desempenhar a função com afinco para que a contratação aconteça naturalmente com o surgimento da vaga. Existem algumas qualidades esperadas pelos alunos que o futuro professor deve ter para alcançar o êxito no seu trabalho, são elas: atenciosidade, acolhimento, cautela, correção, dedicação, didática, foco, inovação, monitoramento, motivação, musicalidade, organização, pontualidade, prevenido, responsável, saudável e técnico5.

6) Indicação da faculdade – normalmente a faculdade já possui uma lista de locais conveniados para estágio, o que limita a “escolha” do aluno. No entanto, o futuro professor pode verificar junto ao local onde deseja fazer estágio se esta instituição é conveniada à faculdade. Caso ela não seja, na maioria dos casos, é necessário levar uma documentação para que possa firmar um convênio entre a faculdade e a instituição aquática.

7) Experiência do professor – ter um preceptor de estágio (professor que recebe e acompanha o estagiário) que possa dar respostas prontamente às dúvidas do estagiário é algo benéfico para formação. A cada dia, o estagiário precisa procurar seu preceptor e pedir esclarecimentos sobre alguma situação de aula ou sobre como deveria agir se tal situação acontecesse. É importante tentar esclarecer as dúvidas surgidas no estágio no mesmo dia que elas ocorrem. Pessoas que já passaram por bons locais de estágio costumam indicar este local para outros estagiários. Buscar informações com amigos sobre locais para estagiar pode ser uma boa opção.  

8) Assumir como “professor” – infelizmente existem pessoas que são motivadas a exercer a função de professor mesmo não sendo formada. Existem casos em que o professor falta ou não está presente na piscina e o estagiário ministra aulas com a turma na piscina assumindo o papel de professor durante o estágio. O estágio deve acontecer sempre sob a supervisão de um professor e cabe ao graduando ter a consciência de não assumir a função de professor sendo ainda um estagiário.  

9) Organização do local – o estagiário deve procurar conhecer, junto ao seu preceptor de estágio, o planejamento das aulas para que ele possa acompanhar a metodologia adotada pela instituição, os conteúdos das aulas, os progressos pedagógicos e as formas de avaliação do aluno. Além disso, o estagiário precisa chegar antes, atentar para os comportamentos dos alunos/professores, escolher aulas para fazer como aluno e atentar para como o professor organiza os materiais que serão usados em cada aula.

10) Variedade de turmas – o estagiário deve buscar locais que oferecem diversidade de modalidades aquáticas tais como: hidroginástica, polo aquático, salto ornamental, águas abertas, surf, nado artístico, salvamento aquático e natação, esta última nas suas diversas faixas etárias, assim como níveis de ensino, desde os com baixa aquacidade até os que já estão competindo. O estagiário deve evitar ficar vinculado a uma única turma e sim conhecer o trabalho que é desenvolvido por todos os professores que atuam na instituição aquática. Cada professor pode ensinar algo diferente, mesmo que eles tenham o mesmo planejamento proposto pela instituição.

Conclusão

Antes da pandemia, a “escolha” do local para estagiar em atividades aquáticas já era algo que deveria ser bem planejado, para atender as necessidades do graduando. Durante a pandemia, essa escolha ficou restrita aos locais reabertos disponíveis. A “escolha” do local para estagiar em atividades aquáticas sofre influência de pelo menos dez motivos que requerem reflexão. Diante da importância do período de estágio, faculdades e locais que recebem estagiários precisam dialogar para que este futuro professor adquira conhecimentos adequados e não apenas básicos de atividades aquáticas na formação. Além disso, é necessário um monitoramento do estagiário para verificar se os conhecimentos “adquiridos” no campo são suficientes para uma prática pedagógica segura no ambiente aquático6.

Referências

  1. Vasconcellos, Marcelo Barros. Swimming and hydroginastic classes during COVID-19: use of a mask and/or Face Shield Protector. Brazilian Journal of Development, Curitiba, 2021a;7(11):103396-405.
  2. Farias, Sant’Ana; Silva, Pedro Henrique Bezerra; Oliveira, Rodrigo Falcão Cabral; Melo, Marcelo Soares Tavares. Body practice in the swimming subject in undergraduate courses: knowing or not knowing how to swim? Rev Bras Ciênc Esporte. 2021; 43: e013320.
  3. Vasconcellos, Marcelo Barros. Nada negligente! Participe da Semana Latino-Americana de Prevenção em Afogamento (SELA) 2021. Revista Empresário Fitness & Health. Edição 107. Novembro de 2021.
  4. Vasconcellos, Marcelo Barros. 4 passos para o primeiro dia na natação. Revista Empresário Fitness & Health. Edição 103. julho de 2021.
  5. Vasconcellos, Marcelo Barros. Qualidades do professor de hidroginástica. Revista Empresário Fitness & Health. Edição 101. Maio de 2021.
  6. Vasconcellos, Marcelo Barros; Massaud, Marcelo Garcia. What is the adequate number of students per class for safety in swimming lessons? Reflection by teachers from Rio de Janeiro, Brazil. Brazilian Journal of Development, Curitiba, 2022; 8(1): 8047-8062.

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